A saudade vem, nos abraça inteiros. Ela nos faz andar quilômetros, nos permite ir além do que imaginamos, do que supomos. Nos faz desejar o que não medimos esforços para alcançar.
Saudade de pessoas queridas, de lugares que trazem boas recordações, de memórias retidas, de cenas vividas. Saudade de sentimentos sentidos e que desejamos guardar bem junto de nós.
Saudade que aparece só uma frestinha, que nos faz sorrir por dentro, que nos faz mergulhar em profundas recordações, que embarga nosso desejo, nossa ânsia, que nos enche de emoção.
Repletos de registros que nos fazem sentir saudades do que nos inspira, do que nos potencializa, do que nos preenche, do que nos empurra para alimentar aquele sentimento em nós. Registros do que nos devolve o sorriso entre os lábios, descongestiona nossos olhos, provoca uma erupção em nós... Nos devolve para entrar em contato com nosso passado, para prospectar nosso futuro – para nós mesmos, no aqui e no agora...
Se você sente saudade é porque viveu coisas boas, significativas... Momentos que deixaram um rastro de ausência; mas, acima de tudo, de presença na sua vida. Ausência é a saudade do que lhe faz falta, do que não existe mais fisicamente, do que você desejava viver. Concomitantemente, há a presença. Sabe aquele sentimento, aquele preenchimento, até pertencimento podíamos dizer, que segue dentro de ti, a te acompanhar, hoje de uma outra forma, mas inteiro dentro de ti a se deslocar pelos dias. Assim, ausência e presença, que te deixam com brilho no olho, estão ali a te reconduzir...
Saudade do que foi vivido, da lembrança de alguém especial, da imagem da pessoa que continua em ti, no lado de dentro a te acompanhar, do local que segue vivo nos teus dias. O sentimento em busca do sentido que a recordação te traz, rememora em ti. Tudo a se misturar ecoando no mais profundo do teu ser.
Saudade de pessoas, de sentimentos, de momentos. Saudade do que idealizamos, do que gostaríamos de ter vivido, de ter nos aproximado, de não ter perdido, de ter experimentado.
Saudade do que foi vivido e do que não foi vivido, mas foi planejado, desejado, tudo isso se mistura em nós.
Só sentimos saudade das coisas que fazem sentido nos nossos dias... Afinal, saudade é a marca gravada de que existiu e ainda existe muito amor...
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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