Caxias do Sul 07/09/2024

Você quer ouvir o que eu tenho pra te dizer?

É hora de me dar a mão, de conversarmos sobre as nossas individualidades
Produzido por Neusa Picolli Fante, 16/07/2024 às 08:15:27
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas
Foto: Morgane Coloda

Quer realmente ouvir? Escutar com o coração, estar junto nesse dialogar, construir uma narrativa, mergulhar comigo? Entrar nas palavras, conectar nos sentimentos e decidirmos juntos os novos passos do desejado seguir?

Talvez você não queira me ouvir e precisa se respeitar e, acima de tudo, respeitar o seu momento, o que deseja absorver e o que não quer. Isso é cuidar de você e de mim também.

Se deseja me ouvir, é hora de me dar a mão, de conversarmos sobre o que nos incomoda, sobre as nossas individualidades, sobre as nossas dificuldades, sobre nosso desejo de encontrar maneiras para saber como seguir.

Vamos palavrear sobre o nada que nos pertence, ou não. Sobre o nada que podemos direcionar para algum lugar. Sobre o que um pode somar com o divagar do outro. Sobre esse nosso continuar...

Concordo que você precisa tentar do seu jeito, de como enxerga, como construiu internamente esse novo seguir. Mas não precisa ignorar, não querer ouvir o que eu digo, ou não entender como eu sinto que devemos andar, e perceber os passos que necessitamos dar.

Afinal, somos dois que decidem, dois que constroem caminhos, e necessitamos concordar com os passos que daremos.

Quando a situação está difícil, é ali, é nesse momento, que precisamos nos unir e pensar juntos novas formas de seguir.

Se sobrepõe o teu desconhecimento sobre mim, do que vivi, do que vi, e isso faz você me invalidar e não compreender meu percurso. Nesses momentos, fico me questionando, qual o meu limite? Quando vou colocar tudo a perder? Será que vou me distanciar? Será que não vai resolver? Já sei disso, ou vou tentar mudar algo imutável?

Muitas vezes, as pessoas não querem nos ouvir, somente desejam falar. Precisamos pedir licença para termos um espaço. Acho isso engraçado, mas falando com algumas pessoas imagino meu dedo levantando pra ver se o outro se dá conta de que estamos num diálogo, não em um monólogo... Assim, simplesmente, eu silencio até a pessoa cansar de se ouvir. Então, ela começa a me enxergar também.

Minha amiga dizia, pois ocorria com ela também esse momento: “Quando isso acontece, penso que o problema está em mim. Eu não sou tão qualificada. Os outros são mais, sabem mais”. E, assim, ela ia ladeira abaixo. E eu argumentava com ela “Você deixa o outro ter um poder tão grande assim sobre você”?

Hoje, penso que o mais importante é termos a sensibilidade de nos aproximar de quem deseja ouvir o que temos para compartilhar, pois isso é o mínimo que podemos fazer por nós e pelo outro...

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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