Já falamos sobre dar limites ao outro. Também de não deixá-lo invadir a minha, a sua, a nossa vida, os nossos pensamentos e os nossos sentimentos. Mas e você, com você mesmo, como fica?
Quando você precisa se dar limites? Quando a angústia fica maior do que a vida que corre em você. Quando a mágoa que sente não tem fronteiras. Quando precisa se acolher, levar a tristeza passear, começar de novo, ficar mais leve e tranquilo consigo mesmo.
Quando o reinvestir de um novo jeito se faz necessário. Quando necessita olhar diferente o que lhe aconteceu. Quando se reinventar se torna essencial.
Limite é protetor, e disso não tenho dúvidas, tanto o é que me ensaio o tempo todo, dou para o outro e também o dirijo a mim mesma. Na tentativa de conseguir o que é para mim difícil de alcançar em alguns momentos.
No que se refere a mim, percebo a importância de me dar limites, para que eu não fique apavorada com a angústia que o outro ou eu sentimos. É primordial eu saber que posso e consigo transformá-la.
Tentar controlar o que o outro sente, ou vai sentir, não consigo alcançar, e também não me cabe me envolver com o que ele alcança ou não. Com como ele enxerga os acontecimentos que passam por ele. A mim somente cabe cuidar, acolher, e não absorver...
Entrar no que não me pertence gera angústia, falta de fronteiras, falta de clareza do que é realmente ajudar o outro, ou até que ponto posso ir para auxiliá-lo e não reter o que o outro deseja ou sente. Afinal, na minha vida, não cabe invadir a do outro...
Sabemos, no entanto, que muitas pessoas se colocam sempre em segundo plano, ficam amarradas, mesmo sem saber e sem ter consciência, nas amarguras do outro. Vivem a vida emocional dele como a mais importante, nos seus dias.
Nesse momento é hora de rever ideia ou sentimento que não são seus, e principalmente discernir o que é ajudar o outro. Que não é viver as angústias dele, mas estar bem para promover acolhida, para que ele se nutra e vá ao encontro das suas verdades. Assim, você auxilia sem ficar amarrado nas incoerências dele.
Por fim, diria que é possível se entregar com verdade, estar aberta a um novo olhar. Se entregar inteira a uma ilusão, mas em algum momento vou precisar me olhar, mais do que enxergo o outro. Vou mergulhar para dentro de mim, e verificar o que tem plantado ali...
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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