Caxias do Sul 21/11/2024

Uma saga deliciosa

Livro resgata a trajetória de uma família de imigrantes italianos e traça um painel da época na região
Produzido por José Clemente Pozenato, 07/03/2024 às 09:58:09
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

No clima da celebração dos 150 anos da imigração italiana no RS, nada satisfaz mais do que abastecer a memória com lembranças do que aconteceu nesse período. Essas lembranças aparecem pelo menos em dois calibres: o da história de cunho público e o das sagas de cunho particular.

Dentro desse segundo calibre, acaba de ser publicado um livro com o título de A Saga de uma Família Italiana. A autora da obra assina este nome completo: Carmencita Maria (Piccoli Aguzzoli) Bento Alves. Os dois sobrenomes italianos, que ela põe entre parênteses, são os herdados de sua mãe e de seu pai: Carmen Piccoli e Adelino Aguzzoli. O sobrenome Bento Alves tem origem num personagem de atuação política marcante para a cidade de Caxias do Sul: Rubem Bento Alves.

Tive a honra de ser convidado a escrever a apresentação que aparece na “orelha” do livro, e que reproduzo aqui:

Nesta obra, construída com muito empenho e carinho, Carmencita realiza um percurso cativante pela história da família. Além das pessoas, estão aqui presentes situações e cenários bem desenhados do ambiente da cidade de Caxias do Sul. A narrativa de Carmencita tem o foco principal em sua mãe, dona Carmen, o que serve de exemplo do quanto foi importante o papel da mulher na construção do modo de viver nas colônias italianas. Uma obra, portanto, para ser lida com muitas descobertas.

Um exemplo dessas descobertas é o da origem do nome da “Barragem da Maestra”, represa que abastece de água a cidade desde o início do século passado. Ela entrou na história da família porque o menino Adelino, que viria a ser o pai de Carmencita, ia a pé do centro de Caxias até o morro da represa, para frequentar as aulas de uma Professora – Maestra em italiano – que morava lá perto. Ele caminhava “em torno de 10 km ida e volta, às vezes acompanhado de um amigo; outras, sozinho” (pág. 20).

O nome da professora – e aqui a pesquisa nas fontes se junta à memória pessoal - era Luiggia Morell, nascida em Treviso em 1842. No navio, conheceu Giovanni Marchioro, nascido em Feltre em 1831, e os dois casaram em Caxias do Sul, indo morar na saída para Nova Trento, a atual Flores da Cunha, próximo do local onde seria construída a represa. Carmencita dá ainda mais detalhes:

“Até onde se sabe, Luiggia dava aulas por conta própria, na sua residência, para os filhos dos colonos. Depois de certo tempo, o governo da Província a contratou como professora de classes mistas na 7ª Légua.”

Fique isso como amostra. Percorrer as páginas do livro leva, como afirmei na apresentação, a percorrer situações e cenários bem desenhados. Desenhos que permitem uma reconstituição visual, e também sonora, de como se vivia na cidade em tempos passados, tempos que o livro torna presentes. A obra pode até mesmo servir de subsídio para a composição do figurino de crianças, mulheres e homens, jovens e idosos, colonos ou citadinos, no caso de se fazer um filme contando histórias desse período...

Como afirmei no título, trata-se de uma saga deliciosa!

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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