Por Eulália Isabel Coelho
O antes, o agora e o depois*.
Se tudo tem um começo, meio e fim, no cinema não é diferente e não me refiro a um filme em particular, mas ao que acontece na linha de produção. O público gostou? Deu bilheteria? Então, por que não sequenciá-lo? Quando o universo retratado já se esgotou, por que não criar o antes? Mostrar o berço dessa história, inventá-lo? Afinal, tudo é possível na indústria cinematográfica, inclusive o implausível.
Prequel, neologismo dos anos 1970, juntou os termos pre (antes) com sequel (sequência). Essa soma remete ao que chamamos de prelúdio, prólogo de um tempo passado. Revelam-se nele os acontecimentos que precedem o filme original, também o denomino filme matriz. O antes é produzido com as mesmas simbologias e acervo mitológico do original, mantendo assim sua identidade. Muitas vezes fica até complicado compreender a linha do tempo de algumas franquias que utilizam prequel. Star Wars é uma delas, explico Nos Fotogramas.
Alien: O Oitavo Passageiro (1979), obra-prima Sci-fi, dirigida por Ridley Scott, ganhou seu prelúdio em dois filmes também dirigidos pelo cineasta. Prometheus (2012) tem como premissa descortinar as origens do predador e Alien: Covenant (2017) segue nesta proposta. Nenhum deles tem a magnitude do original, apesar dos efeitos especiais cada vez mais refinados.
No conceito prequel, Dragão Vermelho (2002) é o antes de O Silêncio dos Inocentes (1991), os dois inspirados nos livros de Thomas Harris. Da mesma forma, a série de três filmes O Hobbit precede a Trilogia O Senhor dos Anéis formada por A Sociedade do Anel (2001), As Duas Torres (2002) e O Retorno do Rei (2003). São três obras: Uma Jornada Inesperada (2012), A Desolação de Smaug (2013) e A Batalha dos Cinco Exércitos (2014). Como se vê, o prelúdio é sempre produzido depois do sucesso do filme matriz.
Prometheus é prelúdio de Alien
Ralph Fiennes em Dragão Vermelho
Até mesmo animações ganham prelúdio. Caso de Universidade Monstros (2013), que apresenta o encontro de Mike Wazowski e James P. Sullivan, o Sulley, antecedendo os acontecimentos de Monstros S.A. (2001). Há notícias de que ainda este ano a Disney vai lançar a série Monsters at Work, que se passa após os eventos do primeiro filme. Aqui, o expediente utilizado é o spin-off, quando a nova obra é derivada do original, mas não é uma sequência direta. Temos o mesmo universo, portanto, com personagens conhecidos e outros adicionados para trazer um ar de novidade.
Sully e Wazowski na universidade
Se prequel é o prelúdio, o antes; o original, a matriz, o alicerce; sequel é o que dá continuidade ao filme original, é o que acontece depois de sua história. São as famosas sequências (nem sempre bem-vindas, como também acontece com certos prelúdios). O prosseguimento se dá quando um filme faz sucesso, mas em alguns casos são previstos antes, como parte de um projeto. A Trilogia O Senhor dos Anéis, citada anteriormente, é um bom exemplo.
Sabe Jason Bourne? Sua história foi concebida para três filmes. As narrativas da Trilogia Bourne começam com A Identidade Bourne (2002), seguida por A Supremacia Bourne (2004) e O Ultimato Bourne (2007), que seria o desfecho. Ou seja, parecia tudo resolvido.
O apelo comercial, no entanto, trouxe o personagem de volta em Jason Bourne (2016) após os acontecimentos de O Ultimato. Ele sai de uma espécie de exílio e passa a ser caçado novamente pela CIA. É um filme dispensável, uma obra menor. Este é um problema de muitas sequências, pois o que interessa realmente é a lucratividade dos estúdios.
Matt Damon na sequel Jason Bourne
Em 2012, foi lançado um spin-off intitulado O Legado Bourne, um chamariz para os fãs. Seguindo o mesmo universo das obras anteriores, Aaron Cross (Jeremy Renner) é o protagonista que enfrenta questões semelhantes às de Bourne (Matt Damon).
Em 2019 saiu a primeira temporada da série Treadstone, spin-off cujo título remete ao programa que modificava o comportamento de voluntários como Bourne.
Jeremy Renner em O Legado Bourne
NOS FOTOGRAMAS
Vamos ao complexo caso da franquia Star Wars, universo Sci-fi criado por George Lucas. A saga inicia no episódio IV, Uma Nova Esperança (1977). Depois vieram as sequências com O Império Contra-Ataca, o capítulo V, e O Retorno de Jedi, o VI.
Mais tarde, os produtores resolveram contar a origem da saga, sua prequel, portanto. Nasceu assim uma trilogia prelúdio entre 1999 e 2005 com os episódios I, II e III. Com essas três obras passamos a conhecer a história de Anakin Skywalker e sua transformação no cruel Darth Vader.
Que bagunça, não é? Existem até superfãs que criaram, a seu modo, indicativos de como assistir aos filmes em ordem cronológica. Os mais radicais renegam certos episódios por considerá-los desimportantes diante do todo. A franquia, na verdade, possibilita ao espectador combinações para experiências diferenciadas.
Darth Vader, o lado sombrio da força
Aqui apresento os capítulos da saga divididos em seus prelúdios e sequências. No meio estão os capítulos autenticados como clássicos, os filmes matriz. Não constam nesse apanhado, séries, quadrinhos e animações.
Trilogia Prequel
(o princípio, o berço, o antes)
I - A Ameaça Fantasma (1999)
II - Ataque dos Clones (2002)
III - A Vingança dos Sith (2005)
Trilogia Clássica
(a matriz, o original, o agora)
IV – Uma Nova Esperança (1977)
V - O Império Contra-Ataca (1980)
VI – O Retorno de Jedi (1983)
Trilogia Sequel
(a sequência, a continuação, o depois)
VII – O Despertar da Força (2015),
VIII – Os Últimos Jedis (2017)
IX – Ascensão Skywalker (2019)
Carrie Fisher, eterna Princesa Leia
Mestre Yoda com Luke Skywalker
Rey (Daisy Ridley), nova heroína
DE OLHO NO SET
O termo reboot é usado para indicar um reinício de um filme já lançado, mas sem ligação com este. É um recomeço e não uma continuação.
O Homem-Aranha é um caso de reboot em que as obras são independentes entre si, inclusive com atores diferentes.
Crossover por sua vez é um cruzamento entre os personagens de um filme com os de outro. Essa abordagem é bastante comum em quadrinhos (HQs).
Os Vingadores, Freddy vs Jason, Alien vs Predador e Batman vs Superman – A Origem da Justiça são exemplos de crossover.
E os remakes? Sim, são as refilmagens, tema para outra abordagem. Aguarde!
(* Versos de Sozinho, música de Peninha cantada também por Caetano Veloso)
Eulália Isabel Coelho é jornalista, professora de cinema e escritora
bibacoelho10@gmail.com
Da mesma autora, leia também OS PSICOPATAS NOSSOS DE CADA FILME