Caxias do Sul 22/11/2024

Um trimestre, na melhor das hipóteses, nulo

Sem clientes para atender, por que comprar veículos novos, de carros a ônibus?
Produzido por José Carlos Secco, 17/03/2020 às 19:31:03
Foto: Arquivo pessoal

O coronavírus (Covid-19) veio para mudar o panorama mundial de forma rápida e drástica. Assistimos de longe a todo o caos e quarentena que se instalou na China em janeiro, fevereiro e parte de março. Também vimos a apreensão decorrente da possibilidade de falta de insumos e componentes para os mais diversos setores industriais, do eletrônico à indústria automotiva, em decorrência do declínio da produção industrial chinesa. E mais uma vez subestimamos o problema ou focamos no que não era o fundamental.

Enquanto discutíamos se iria faltar peças, o que poderia comprometer o ritmo da economia brasileira, a Itália decretava o confinamento de toda a nação. Em seguida, a Espanha e nesta semana, França e Canadá, sem falar dos muitos outros países que fecharam parcial ou totalmente suas fronteiras. O mundo – menos a China – entrou em compasso de espera até conseguir controlar a curva de disseminação do coronavírus. Serão pelo menos dois ou três meses de paralisação da economia e foco somente na prevenção, cuidado e restabelecimento dos contaminados.

A esperança vem da própria China que começa neste final de março a retomar o seu ritmo normal. A queda nos dois primeiros meses do ano foi a maior desde a crise econômica mundial de 2008, com retração de 24% nos investimentos, 20% nas vendas no varejo, 13,5% na produção industrial e aumento de 6,2% no desemprego nas áreas urbanas.

Agora, por aqui, nem eventos profissionais, esportivos e culturais. A palavra de ordem é isolamento social e medidas drásticas para preservar vidas e encurtar esse período de confinamento e estagnação econômica. O que se achava ruim na semana passada, hoje já seria uma grande notícia para todos os brasileiros. Estamos ainda no início de uma curva exponencial de contágio, disseminação de novos casos, mortes e de uma nova recessão econômica.

No nosso segmento, a indústria automotiva, não recuperamos ainda os patamares de produção e vendas de 2012 e 2013 e já enfrentaremos pelo menos mais um trimestre duro e penoso para grande parte das empresas e cidadãos. O pior é que ainda não é possível prever a duração e nem a gravidade da paralisação ou do isolamento social que o coronavírus vai impor a todos nós.

As medidas do governo para reduzir o impacto poderão amenizar, mas nada substitui o consumo direto e verdadeiro, que gera dividas, receitas, impostos, salários e faz girar a economia. Sem poder sair de casa, em alguns casos, nem para ganhar dinheiro, como pensar em gastar com carro ou TV? Sem clientes para atender, por que comprar veículos novos, de carros a ônibus? Sem produtos para transportar, por que não adiar a aquisição de caminhões ou implementos rodoviários?

Sem a circulação de turistas, como as áreas de serviços poderão se manter? Na verdade, e por isso, na melhor das hipóteses, um trimestre nulo. Vamos tão apenas e somente lutar para nos manter por, a princípio, três meses, até a situação ser controlada e gradativamente as restrições e isolamento social serem amenizados.

Mais uma vez, teremos um ano de, no máximo, oito ou nove meses. Que a recuperação e a volta à normalidade na China aconteçam imediata e prontamente para que também nós, e o resto do mundo, possamos sonhar com um segundo semestre de retomada e aumento da atividade econômica.

Acesse o podcast nohttps://soundcloud.com/user-645576547/o-impacto

* José Carlos Secco é jornalista especializado na indústria automotiva e de transportes, diretor da Secco Consultoria de Comunicação, de São Paulo, com atuação inclusive na Serra Gaúcha.
E-mail:jcsecco@secco.com.br