A recente eleição de Francisco Michielin para ser o Patrono da 39ª Feira do Livro de Caxias do Sul coloca na frente do leitor um fascinante contador de histórias, capaz de fazer uma reconstituição concreta de tempos passados.
Seus dois livros mais conhecidos têm como tema histórias do futebol. O primeiro, Assim na terra como no céu, conta o nascimento do clube de futebol Juventude e a sua trajetória. Trajetória que não se limita aos gramados, mas tem ligação com “gentes e coisas” da história da cidade de Caxias do Sul. Como assinala o autor na introdução da obra:
Foi, lhes asseguro, uma aventura magnífica e que me obrigou a repensar posições e estratégias, recompondo o rumo com que eu pretendia definir a linha mestra do livro. A conclusão ressaltou clara: seria impossível, e até desagradável, para não dizer ingrato, que fosse eu o responsável pela dissociação do Juventude com a cidade de Caxias do Sul. Essa dicotomia jamais, no meu entendimento e sob minha ótica, poderá ser feita em tempo algum. Seus caminhos não se bifurcam. Há, na verdade, um enraizamento tão forte que vincula a ambas no mesmo tronco comum.
O resultado desse propósito de Michielin é que o livro passou a ser uma importante contribuição para a história de Caxias do Sul, vista em seus menores detalhes. Com isso ele tem as características de um “livro-reportagem” juntando as duas histórias: a do clube e a da cidade. Os sete primeiros capítulos dão uma imagem bem viva da vila de Caxias, que não é encontrada normalmente nos livros de história. Só para dar uma ideia, é esta a primeira frase da narrativa:
Fazia quase uma semana que não parava de chover.
Como se ensina nas oficinas literárias, uma boa narrativa se define pela primeira frase, capaz de abrir a cortina do cenário para o leitor. E é com personagens bem definidos que a história prossegue. Como dito, uma história que não é apenas do clube, mas de toda a cidade.
Médico e escritor Francisco Michielin é o Patrono da Feira do Livro de Caxias do Sul em 2023 (Foto: Arquivo pessoal)
O outro livro bem conhecido de Francisco Michielin trata também de futebol: A primeira vez do Brasil – Campeão Mundial em 1958.
Como na obra anterior, também nesta história da Copa do Mundo de 1958, realizada na Suécia, Michielin usa de recursos para colocar o leitor dentro dos cenários: das ruas, dos estádios, dos vestiários. Como observa o jornalista e “professor” Ruy Carlos Ostermann na apresentação do livro, a que dá o título de A arte da bola e da palavra:
A paixão deste livro é a sua preocupação com os fatos e as pessoas, elucidando muitas das zonas obscuras que todo grande épico não pode deixar de ter, mas deixando muito para a imaginação, que é o modo de sabermos completar a realidade como se fosse uma conquista pessoal e intransferível, que só assim cabe, de fato, ser contemporâneo de Pelé.
Devo esta reconquista ao Chico e ainda vou agradecê-lo muitas vezes.
Por isso tudo, a escolha do médico e escritor Francisco Michielin para Patrono da Feira do Livro deste ano estará sendo aplaudida por muita gente, dentro e fora da cidade. Dou a ele também o meu voto pessoal.
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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