Neste Dia Mundial de Combate ao Fumo, 29 de agosto, é importante refletir sobre alguns aspectos relacionados ao tema. O Brasil tem cerca de 700 mil casos novos de câncer/ano, dos quais 30 mil são de pulmão, segundo o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Muitas dessas neoplasias poderiam ser evitadas ou tratadas. E o tratamento oncológico baseia-se em três intervenções principais: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. A cessação do tabagismo é vista como quarto pilar, pois interfere favoravelmente em vários aspectos.
Continuar fumando próximo à cirurgia eleva o risco de complicações e aumento da mortalidade. Em tabagistas ativos, há menor eficácia da radioterapia e piora dos efeitos adversos. Há repercussões desfavoráveis intensas na quimioterapia e, ainda, relaciona-se com outros problemas respiratórios, cardiovasculares e neurológicos.
Em contrapartida, os ex-fumantes melhoram a qualidade de vida, têm maior sobrevida e menor frequência de novos tumores. Estudo publicado em 2022 pelo Journal Of Thoracic Disease diz que a descontinuação do fumo gera evoluções mais favoráveis, mesmo em estágios avançados do câncer.
Parar de fumar é difícil, mas possível com orientação profissional. O tabagismo é uma doença e precisa de tratamento. O uso de medicações com técnicas de apoio comportamental é o que traz melhores resultados. O reforço motivacional por familiares e amigos é fundamental.
O tabagista sente-se responsabilizado pelo câncer de pulmão, enquanto em outras neoplasias considera-se vítima. A culpa precisa ser amenizada, pois a maioria iniciou o hábito quando se desconheciam os malefícios. Assim, o esforço conjunto ajuda a aceitar a doença e o tratamento.
A dificuldade não significa fraqueza, mas o enfrentamento de um vício forte, integrado à rotina ao longo de anos. Nenhuma outra droga é usada tantas vezes ao dia como a inalação de 10 a 15 doses de nicotina liberada em cada cigarro, alerta a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Portanto, sempre deve haver esforço para a cessação do uso de qualquer forma de tabaco, inclusive das novas apresentações deste produto tão prejudicial à saúde individual e coletiva.
José Miguel Chatkin é pneumologista da Oncoclínicas RS e Hospital São Lucas da PUC-RS