Hoje eu quero falar sobre VOCÊ no profundo senso de quanto cuidado e quanto tempo da sua vida você dedica a si mesma.
Você está cuidando da sua saúde? Está prestando atenção ao que come e bebe? Está nutrindo sua alma depois de um dia difícil ou exaustivo de trabalho? Você está deixando claro para o seu EU interior o quanto o admira?
Você tem consciência de quantas coisas importantes você faz no seu dia? Quantas coisas você faz que não são percebidas, que talvez nem você contabilize e que são essenciais para que os outros estejam bem? Quantas vidas você toca e enriquece todos os dias e de quantas pessoas cuida? E os seus exames de rotina e cuidados de saúde, está priorizando?
Você acha que está sendo justa e gentil consigo mesma? Você reserva algum tempo para se “mimar”? Está reservando tempo para fazer o que você sabe que lhe faz bem? Aliás, você sabe o que lhe faz bem? Suas necessidades estão na sua lista de prioridades? Se a resposta para algumas dessas perguntas é não… nós temos de conversar!
Este texto talvez tenha um enfoque maior na vida das leitoras que acumulam responsabilidades e funções com as quais me identifico. As que são mães, esposas, filhas, profissionais, donas de casa, chefes, funcionárias, tudo ao mesmo tempo, porque essas precisam de um cutuco maior para pararem e reavaliarem como estão administrando seu tempo e como estão lidando com as suas próprias necessidades.
Mas quero que as outras mulheres, as solteiras, as casadas sem filhos, que também se cobram demais e se cuidam de menos, trabalhadoras, profissionais, filhas, irmãs, tias e avós que dedicam a maior parte do seu dia para os outros, também pensem no cuidado que estão dedicando a si mesmas.
O fato é que está na natureza da mulher cuidar, servir, nutrir, resistir diante das dificuldades, correr contra o tempo, acumular funções sem questionar, provar que pode tudo e que consegue dar conta de tudo. É normal não pedir ajuda e adiar a recompensa, não esperar elogios, agradecimentos e confetes.
Está na natureza da maior parte de nós manter um sorriso no rosto, a maquiagem bem feita, o cabelo arrumado e a elegância em qualquer situação. Simplesmente está incutido nas últimas gerações que nós, mulheres, se quisermos ser tão valorizadas quanto os homens, devemos mostrar resistência, competência e destreza sem “mimimi”. Qualquer NÃO, ou não consigo, hoje não dá, talvez amanhã, vou pensar a respeito, ou não quero, é encarado, talvez mais por nós mesmas do que pelos outros, como sinal de fraqueza, incompetência, fragilidade ou falta de capacidade. Pois bem, está na hora de reavaliar e mudar. Temos de aprender a dizer NÃO para o que nos sobrecarrega e colocar nossos desejos e necessidades na lista de prioridades.
Não se sinta mal. Não estou falando que devemos colocar nossos desejos antes das necessidades básicas da nossa família, nossos filhos ou dos quais somos responsáveis ou das nossas responsabilidades profissionais. Estou dizendo que devemos NOS colocar na lista.
Vocês conhecem aquela instrução básica de sobrevivência durante emergências, que as aeromoças e comissários de bordo explicam no início dos voos? Eles dizem claramente: em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão na sua frente, ajuste a SUA máscara ao seu rosto antes de ajudar outros. É bem por aí. Temos de garantir o nosso bem estar e equilíbrio se quisermos ajudar aos outros.
Que tal termos nosso horário de atividade física regular marcado na nossa agenda semanal e nada pode interferir? Que tal nosso horário de manicure ser fixo e ser nosso “mimo” semanal? Que tal uma vez por semana ser seu dia de tomar um banho bem demorado no final do dia com direito a creme no cabelo, esfoliação e hidratante, enquanto alguém que a ama prepara o jantar para você?
Você pode planejar isso, você deve fazer e tem de partir de você. Ninguém lhe dará isso como "cartão-presente”. Você tem de planejar, combinar e executar. Coloque a sua trilha de música preferida, uma vela perfumada ou incenso no ambiente e lembre de só pensar que é sua recompensa.
Esse é um momento para se presentear e pensar no quão maravilhosa você é e quantas coisas boas você realiza na sua vida. Isso pode parecer um capricho bobo, mas tem um efeito impressionante na nossa autoestima e na maneira como lidamos com as situações que nos impõem escolhas. Nos “empodera” e nos fortalece.
Se você já tem o hábito de fazer isso, parabéns, continue e se aperfeiçoe. Se não, tenho algumas dicas para você começar a cuidar mais de si mesma. Quero fazer você pensar em como a sua rotina e lista de tarefas a cumprir pode ser mais suave. Menos impregnada de obrigação e mais recheada de satisfação.
Quando estamos sobrecarregadas de atividades e de compromissos, tendemos a centrar nosso objetivo em completar nossa lista de afazeres e nos damos por satisfeitas se realizarmos a lista. Nossa satisfação reside na nossa efetividade ou resolutividade. Por algum tempo, isso nos dá uma sensação de alívio que nosso cérebro interpreta como prazer. Nos adaptamos com essa rotina, mas, passado algum tempo, a falta de doses diárias de atividades de lazer ou entretenimento resulta em estresse e cansaço crônico porque não compensamos nosso cérebro com uma dose adequada de endorfinas para compensar a adrenalina do fazer, fazer, fazer, completar, completar, completar, e nos exaurimos.
Revise o que seu cérebro realmente reconhece como prazer e se dê alguns minutos por dia disso. O que dá prazer é muito diferente para cada pessoa e não precisa ser nada sofisticado, pode ser o banho demorado, pode ser uma atividade física ou assistir a um filme deitada no sofá, uma jantinha ou uma sobremesa especial, pode ser alguns minutos em paz com seu livro ou jornal favorito e pode ser sexo, que é, essencialmente, a busca do prazer.
Descubra que atividade realmente lhe faz sentir especial e, quando fizer, rotule "eu gosto disso", ou “isso me faz feliz", para que fique registrado no seu cérebro. Falando sério, coloque uma etiqueta mesmo. Assim, automaticamente, ele lhe dará uma dose de endorfina cada vez que repetir aquela atividade. Lembre que o hábito torna isso concretamente positivo. Seu cérebro não lhe deixará esquecer que “aquilo” lhe faz bem e a lembrará de repetir.
Sei que agora você pode estar pensando “mas em que momento que ela sugere fazer essas coisas. Estou diariamente assoberbada de coisas para fazer!” Pois bem, a ideia não é correr atrás do prazer e, sim, trazê-lo para si.
Uma tática muito simples, mas eficaz para tornar as tarefas que consideramos apenas uma obrigação serem mais agradáveis, é dar a elas sons, cheiros e beleza. Por exemplo, adoro cheirar o pescoço do meu marido e o cabelo dos meus filhos quando eu termino de resolver ou organizar as coisas deles ou para eles. Me faz lembrar de quanto eu amo tê-los na minha vida.
Ouça seu podcast ou rádio preferida quando estiver fazendo sua lavanderia ou estiver dirigindo. Quando terminar uma organização ou limpeza na casa, passe um spray de perfume no ambiente ou acenda um incenso. Quando for cozinhar, pense em colocar algum item ou sabor diferente ou acrescente beleza na decoração dos pratos. Quando for caminhar com o cachorro, observe a natureza e as pessoas e pense nesse momento como uma oportunidade de deixar sua mente voar enquanto seu amigo peludo se realiza com a sua companhia. Quando estiver fazendo compras de supermercado, busque algum item interessante que lhe fará feliz ao desempacotar em casa. Quando terminar aquela reunião difícil ou aquele curso mais pesado, coloque aquelas músicas que você adora e a fazem sentir adolescente de novo. Planeje ter 30 minutinhos dentro do seu longo dia de trabalho para fazer o que quiser ou não fazer nada.
Seja seletiva a respeito do que você ouve ou lê. Isso afeta seu estado de espírito. Você pode escolher, então, escolha sabiamente o que deixará entrar nos seus ouvidos ou o que lerá no dia. Alguns dias aquela reflexão mais profunda sobre o sentido da vida ou uma notícia triste no Facebook ou no noticiário não vai lhe fazer bem. Alguns dias um post de uma beldade no Instagram tampouco vai animá-la. Filtre o que chega aos seus olhos e seus ouvidos. Seja gentil consigo mesma e não esqueça disso.
Reflita sobre como você está se sentindo e do que precisa. Revise o quanto de tempo da sua semana é só seu. Reveja se você tem um propósito claro na sua mente e se está agindo de acordo para alcançá-lo. Busque ser feliz e estar bem. Afaste maus pensamentos, evite ruminações sobre o passado e preocupações improdutivas sobre o futuro. Descarte pessoas desagradáveis, tóxicas e mal-humoradas. Rompa relacionamentos desiguais ou abusivos. Valorize quem a ama, respeita e se preocupa com você. Invista em ficar próxima das pessoas que sabe que estarão disponíveis para você quando precisar. Elas são as que merecem nosso “like” diário.
Você é seu maior patrimônio. Autocuidado não é indulgência, é necessidade e deve ser a sua escolha, o seu cartão-presente. No próximo texto, vou trazer um plano para ajudá-la a objetivamente “cuidar de você”, focando no que é essencial.
Lisiane Dossin Miotti é médica especialista em Mastologia, Ginecologia e Obstetrícia com formação na PUC-RS. Cursando especialização em Menopausa, Ciências do Bem-Estar e Longevidade nos EUA, onde vive há 5 anos.
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