“A alegria de estarmos juntos!”
Com este lema, Caxias do Sul convidou as cidades vizinhas e o Brasil inteiro para se associarem à Festa da Uva de 2006.
De fato, para haver festa, é preciso alegria. E para haver alegria, é preciso estarmos juntos. Com o distanciamento, com a desconfiança, com a discriminação, com a raiva, com o ódio, não podemos sentir alegria, nem fazer festa.
Sempre vai existir alguém, que a vida tornou amargo, a dizer que não há nada para comemorar. A bradar que são tantos os problemas que não há lugar para a festa.
Mas a festa é uma necessidade humana. É um rito social, que sempre existiu e continuará existindo em todas as culturas. A festa é a celebração das conquistas já realizadas e o reabastecimento do ânimo para novos desafios e novas conquistas.
Só não festeja quem é pretensioso demais: quem está sempre achando pouco o que foi feito. Para fazer festa é preciso, portanto, uma certa dose de humildade. Isso permite a gente se alegrar mesmo quando não se conseguiu tudo o que se pretendia.
Sendo assim, Caxias do Sul tem motivos de sobra para a sua Festa da Uva. Conseguimos muito mais do que qualquer um de nossos antepassados foi capaz de sonhar.
Entre esses antepassados, que evocamos em cada Festa da Uva, estão os bravos imigrantes que saíram da Itália e construíram aqui seu novo lar. Eles deixaram nesta cidade a sua marca indelével, nos usos, nos costumes, na valorização do trabalho, no espírito de fé. Mas o imigrante italiano não esteve sozinho. Hoje, os descendentes desse imigrante já nem são maioria na cidade. Gente de todos os lugares, e das mais variadas etnias, vieram juntar-se para fazer o que somos neste início do terceiro milênio.
O poeta Olmiro de Azevedo, um dos tantos caxienses por adoção que temos na cidade, há mais de 90 anos definiu que a Festa da Uva devia mostrar quem somos e o que fazemos.
Somos uma cidade que se orgulha da variedade de suas culturas. Não queremos que nenhuma seja absorvida, mas que todas sejam partilhadas entre irmãos. Porque respeitamos a diferença é que festejamos “a alegria de estarmos juntos”.
Somos uma cidade que se orgulha do resultado do trabalho. A uva foi o início de uma arrancada que culminou com a expansão industrial e com o moderno ciclo dos serviços de alta tecnologia. Mesmo não sendo mais a uva o carro-chefe da nossa economia, ela continuará sendo o símbolo desta cidade. Uma cidade com o sabor sempre jovem da uva.
Tudo isso me vai sendo lembrado nestes poucos dias que nos separam do início da festa. Teremos, enfim, a alegria de estarmos, como nos convida o tema da tão esperada Festa da Uva de 2022,
JUNTOS OUTRA VEZ!
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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