Desocupado leitor. Coloque-se na posição mais cômoda: sentado, deitado, encolhido, estendido. Não espero nem peço que acredite nessa história estranha, embora muito caseira, que vou contar. Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei.
Nos anos mais vulneráveis da mocidade, meu pai me deu um conselho que nunca mais saiu da minha cabeça. Só quem tem uma casa, mulher e filhos, um verdadeiro lar, pode experimentar a extraordinária paz e felicidade que é um dia se livrar de tudo isso.
As famílias felizes são todas iguais, e toda família infeliz é infeliz à sua própria maneira. Todo avô morre. Eu sou um homem doente. Sou um homem mau. O sertanejo é, antes de tudo, um forte.
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, tinha uma pedra no meio do caminho da nossa vida. Eram os anos em que eu errava morrendo de fome pelas ruas de Cristiânia. Encontraria a Maga? Lolita, luz da minha vida! Nas últimas décadas, o interesse pelos artistas da fome diminuiu bastante.
Poucas palavras atrás, embora ninguém tivesse percebido, acabava de ocorrer a morte do Autor.
Eu envelheço o tempo. Quando eu era muito pequeno, eu vi um deus. A história universal acontece como todas as outras histórias. Os autores não têm nenhuma ideia nova e copiam uns aos outros. A pessoa se torna grande pelo que lê, não pelo que escreve. Nonada a fazer. O inferno é os outros. Eles passarão, eu passarinho.
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.
Do mesmo autor, leia outro texto AQUI
