Quebrar as pernas da arrogância, que estava em si, foi o mais difícil que pôde fazer pelo outro, mas, principalmente, por si mesmo.
Foi complicado se enxergar nesse formato, pois aprendeu, sem se dar conta, a ser como era. E agora, desmanchar esse nó (como considerava) e construir estruturas novamente, não era tão simples assim.
Era tão fácil, fluído, ser esnobe, presunçoso, afinal, foi assim que aprendeu e, até ali, nem sabia que poderia ser diferente. Na sua família existia uma disputa constante, com soberba, para ser o dono da razão, para ser o único a saber a verdade. Ali, o presunçoso imperava e, como ele sempre viveu com essas pessoas, não sabia que poderia existir outra forma de ser.
Percebeu que esse sentimento prepotente, que não o deixava seguir um ritmo tranquilo ao encontro com a vida, estava em si. Avaliou o caminho que trilhou para descobrir de quem absorveu e se viu hospedeiro de um sentimento inóspito, que hoje, olhando para trás, não desejava tê-lo absorvido.
Era a sua arrogância tentando encontrar um novo lugar. Se modificar, quem sabe! Achar um sentido, talvez! Transformá-la era esse seu maior desejo, oculto dele mesmo, nesse momento, mas ali permanecia, esperando que ele fosse encontrá-lo.
Era o que o impedia de seguir, de construir, de continuar... De crescer interiormente, enfim. Era se ver como realmente era e modificar para onde deveria ou desejava se direcionar.
Quando conheceu pessoas simples, em quem não existia o sabe tudo, nem o mandão, percebeu-se estranho e começou a enxergar diferente, a sentir diferente também e, principalmente, a se questionar como sentia e se portava em contato com o que via.
Foi ali, nesse momento, que não fazia mais sentido a arrogância que esteve presente por tanto tempo na sua vida. Era hora de alçar novos voos, alcançar novos horizontes, atingir novos entendimentos e, para isso, precisava entrar na arrogância que muito tinha percebido em si nos seus últimos anos e deixá-la à mostra. Resolveu questionar-se por que absorveu tanto do que agora via que não era importante, que o fazia ficar regredido e o impedia de alcançar a sabedoria que muito poderia engrandecê-lo.
Foi só assim que pôde ensaiar um novo ser, que nasceria novo, com mais vida, mais mobilidade, com olhar ampliado. E, assim, sereno e conectado, seguiria a andar. Foi assim que conseguiu quebrar as pernas da arrogância que estava em si.
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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