A crise de saúde, econômica e social provocada pelo coronavírus no mundo nos fez pausar a vida e buscar formas de ressignificá-la.
Esta jornalista cansa de ouvir perguntas do tipo “o mundo mudou e como vamos nos inserir nas novas demandas do mercado de trabalho”?
A tecnologia e as ferramentas digitais já vinham alterando consideravelmente a forma de trabalhar, produzir e nos comunicar nas últimas décadas, mas a revolução causada pela pandemia acelerou este processo. A chave virou.
Com isso, a forma de atuação de um profissional e de uma organização já não é mais garantia de sucesso hoje. “Minha empresa tem 50 anos e sempre foi assim, e deu certo”.
Essa frase não cabe nos dias atuais. A receita de êxito de ontem pode já não servir para o hoje e o amanhã. E já não está servindo.
“Então o mercado acabará e ficaremos sem colocação?”, me questionam.
Não, nem uma coisa e nem outra.
Uma visão que tenho hoje, mas que a cada dia ganha novas nuances e percepções, é de que o mercado continuará selecionando tanto empresas quanto profissionais. Neste momento, de restrição da circulação e da mudança intensa dos hábitos de consumo, pode não haver mercado para todos. Muitas empresas fecharam (e fecharão) as portas e muitos profissionais ficaram (e ficarão) de mãos abanando (e bolsos vazios).
Mas, mesmo retraído, o mercado existe e continuará existindo. Quem se destacará nele, contudo, é quem melhor dialogar com “esse novo consumidor”. São as companhias com propósito, são os profissionais que sabem que, além de um know-how e de uma vocação, têm uma marca própria a zelar.
Aquela empresa que trabalhava escondida, porque tinha medo de alertar o concorrente para os seus diferenciais, talvez tenha de se repensar agora. Ou não, dependendo muito do filão de mercado em que ela atua. Se você tem produto raro, com ótimo custo-benefício e atrativos incomparáveis, talvez o modelo antigo de se relacionar, de forma mais sigilosa, ainda funcione. Mas são casos de exceção, e não de regra.
Em geral, as empresas que vão triunfar são aquelas que conseguem fazer uma leitura rápida de cenário, buscam se adaptar às necessidades do público, se aproximam dele por meio de uma comunicação assertiva, mostram seu propósito, não trabalham apenas por dinheiro, exalam paixão e querem fazer a diferença nas sociedades em que vivem.
Para o profissional, não é diferente. O que explica o fato de muito estarem desesperados por uma recolocação e outros, mesmo diante da crise, poderem escolher o que farão, serem constantemente sondados para desafios?
Creio que a justificativa é ampla, e reúne um conjunto de variáveis, desde o nicho em que esse profissional está inserido até a forma como cultiva seu talento e o laço de parcerias profissionais, e mais: como consegue, com o seu dom (todos temos), ser um agente transformador na crise, agregador, que busque criar e inspirar durante este cenário tão desafiador para o mundo.
Nem tudo isso garante êxito financeiro neste contexto dramático e incerto. Mas o certo é que, no futuro, o mercado consumidor voltará, as demandas existenciais continuarão surgindo, o público seguirá viajando, passeando, estudando, adquirindo, talvez de uma forma redimensionada, mais consciente, voltando-se mais ao essencial. Mas dinheiro, mesmo que muito mal distribuído, existe e seguirá alimentando desejos consumistas, sim.
Portanto, o mercado não desaparecerá. E as empresas e profissionais que triunfarão são os melhores preparados, os que buscaram seus diferenciais, os que exploram a sua vocação em favor do coletivo, os que trabalham com parcerias, os que não se aquietam, os que ousam e correm riscos. Os que, antes de chorar diante dos problemas, preferem se debruçar em cima de soluções.
O contexto econômico pode não ser o ideal para ganhar dinheiro e lucrar. Todos precisamos cortar na carne. Reestruturar nossos ganhos, renegociar contratos. Mas, certamente, a pandemia representa uma oportunidade de mostrarmos nossa generosidade, nosso poder de nos reinventar e de impactar positivamente nossas comunidades. É a chance de cuidarmos de nossas marcas pessoais e profissionais. Os melhores preparados e fortalecidos serão protagonistas do “novo normal”. Os que aprenderem a linguagem do novo consumidor, que mescla inovação, consciência coletiva, sustentabilidade, propósito, tecnologia, qualidade de vida, irão brilhar no palco do mundo.
Como diria o poeta Mario Quintana:
“O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você”.
Como estamos cuidando do nosso jardim? Adube, hidrate, diversifique o plantio de flores e aproveite para podar os galhos secos das árvores.
Da mesma autora, leia também SEM MUNIÇÃO, É MELHOR SE RECOLHER PARA NÃO PERDER A GUERRA