Se... a Terra não se inclinasse em seu eixo, não existiriam as estações. Pois, o Sol iluminaria somente uma face do planeta. Fato tão belo quanto simples. E, a essa translação ao redor do Sol, em um ano, girando sempre e também ao redor de si mesma, nossa mãe Gaia, a Terra, oferece-nos os dias e as noites de primavera, de verão, de outono, de inverno.
Viajamos com a Terra em todos os seus movimentos circulares nos dias e nas estações. É a nossa casa, sempre viajando no espaço, e nós, como viajantes, segundo a segundo, nessa trajetória, podemos viver novos começos, com infinitas possibilidades, até o dia em que desembarcaremos. Enquanto isso não ocorrer, creio que o melhor a fazermos é observar e aprender.
Os milagres do dia a dia. Quase um mundo de fantasia. Todavia, real. Onde estivermos – em um aeroporto – ou à beira-mar – em qualquer lugar – sempre poderemos observar as pessoas – o céu – a natureza – as mudanças do tempo no transcorrer das horas... e a influência disso tudo em nós, como fôramos pequeníssimos grãos de areia nesse espaço infinito chamado Universo, impecável, perfeito, inexorável, que cumpre seu destino sem adiantamentos ou atrasos.
Por mais que me esforce, minha mente não consegue dimensionar tanta imensidão, beleza, paz, quietude. Planetas, estrelas, constelações, sóis, Universo em expansão, giros em dimensões cada vez maiores e tudo mergulhado na escuridão. Um paradoxo, luzes mergulhadas nas sombras.
Adoro observar o céu, em qualquer momento do dia ou da noite. Observo e aprendo. Digo, brincando, que poderia trabalhar em previsão do tempo. Dificilmente erro nos palpites. Os sinais. As cores. As nuvens. Os ventos.
Na praia ou na chácara, à noite, com o céu límpido, sem a interferência das luzes da modernidade, fico feliz quando identifico Vênus, a estrela vespertina e Júpiter, esse não pisca, é amarelo-alaranjado, o último planeta visível, as Três Marias, o Cruzeiro do Sul, a Via Láctea deslumbrante e outras tantas constelações incógnitas para mim e, em especial, a Lua, que flutua, em suas fases.
Nasci em uma primavera, no meio de uma tarde ensolarada. Foi o começo – uma vida em movimento. Já vivi muitas primaveras e verões e outonos e invernos. Fui chamada à aventura, desabrochei, aprendi a lidar com perdas (algumas) e agora, sobrevivente, valorizo a colheita e, mesmo que mais recolhida, ainda faço planos para o futuro.
Desde menina, me perco na contemplação do céu, das flores, dos animais. Lembro dos meus assombros nas aulas de Ciências no quarto ano da Escola Primária, dos poemas que escrevia na adolescência – eram odes à natureza.
Com o passar do tempo, deixamos de perceber as coisas mais comuns, porém, são nos detalhes que captamos os momentos vividos no escorrer dos dias e das estações, no sentido do ir e do voltar constantes. Já na antiguidade, pela observação, o homem aprendeu que, tanto as fases da Lua, como as estações do ano influenciam nos mares, nos plantios, nas colheitas e no estado de humor nos seres.
Que eu jamais perca esse encantamento de observar e aprender. Para mim, cada estação revela belezas únicas. Tenho minhas quatro estações pessoais. Me emociono em todas de alguma forma.
As paisagens recortadas no amanhecer e no pôr do sol. As flores. Deitar de costas na grama e deixar a alma andar nas nuvens. O aconchego num abraço para enfrentar o frio. As luzes da rua se acendendo mais cedo por causa da neblina. O Sol sempre – quente no verão – adorável na primavera e no outono – pequeno e frio no inverno. Dias curtos – dias longos.
As borboletas pousadas nas flores. As gotículas de orvalho reluzindo. A Lua. A chuva. A neve. O vento. A brisa. O mar. A maré. Solstícios de verão e de inverno. Equinócios de primavera e outono. Folhas secas que farfalham. Folhas que brotam. Folhas que voam...
E assim vou vivendo. Em ciclos. Se sou feliz? Nem sei bem o que é isso. Porém, aprendi com as estações - para tudo há um tempo. Não controlo nada. Cada amanhecer, cada pôr do sol, cada nuvem no céu, são únicos. A cada vez novas formas, novas cores, novos ventos.
E assim transcorre a minha existência, com mudanças contínuas nos pensamentos e nas ações. Cuido dos gerânios na sacada, das folhagens e das violetas. Vivo com rosas nos vasos e frutas na fruteira. Tomo um vinho branco ao entardecer, conferindo o pôr do sol, prevendo como o tempo será no dia seguinte. Observo os pássaros, as árvores que os acolhem e aquele instante imperceptível, tão solitário, divisor do dia e da noite.
E agora, só me resta entrar e regar meus silêncios, me conectar com o poder que habita em mim e respeitar os ciclos da vida com a crença de que sempre há o tempo de crescer como uma árvore, inteira e em paz desde as raízes aprofundadas na terra até os galhos que tocam o céu.
Marilia Frosi Galvão, professora, escritora e cronista
E-mail: galvao.marilia@hotmail.com
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