Existem imagens que saltam ao tempo, que nos encontram em qualquer lugar em que estamos. Imagens que nos acompanham através dos dias; que atravessam vidas, que contam história, que resgatam memórias. Histórias que ficam vivas dentro de nós, e vidas que se eternizam na nossa alma.
Imagens/sentimentos que nos acompanham nos infinitos lugares por onde andamos.
Memórias se perdem, se encontram... se juntam e formam recordações, histórias vivas. Recriam partes da vida vivida e transformam o presente.
Por vezes, as memórias estão perdidas, ficam ausentes dentro de nós. Elas se atrapalham, se enroscam, e até se escondem. Ir atrás delas e reconstrui-las se torna imperativo, dizia aquela voz que volta e meia me chamava. É preciso encontrar as verdades que ainda existem naqueles flashes de imagens, de sentimentos que se perdem na ausência sentida...
Poderíamos falar de memória ao encontro com o desejo, e isso renderia belas reflexões. O desejo de ficar junto, de querer construir coisas novas, em novos dias, está presente em nós.
Memórias vêm para mostrar que já existiu um outro dia, outro raio de sol, outro olhar sobre a esperança, e sobre o que se viveu. Naquele momento, os dois se entreolhavam e percebiam que não se conectavam mais, ou será que nunca se conectaram?
Os medos e as angústias se misturavam junto às recordações. Estavam ali mostrando o peso do que se viveu, do que ficou, do que se direcionou ou não, nessa longa ilusão, um novo e diferente seguir...
O caminho se constrói com passos. E, assim, ele seguia, com um passo após o outro. Em alguns momentos não conseguia ir, não conseguia ficar, eram só interrogações naquele andar.
Às vezes, essas encruzilhadas ficam perdidas dentro de nós, querendo encontrar um lugar, mas não é qualquer lugar. É aquele lugar seguro que a gente conhecia ou desejava, porém, acima de tudo, que vem de um desejo enorme de ter/construir e, principalmente, de se resgatar.
Entrei na arena das lembranças e elas vieram a se confrontar, a me despedaçar. Outras partes de vida vieram até mim para me resgatar. Eram partes vivas que vinham, que iam, todas tentando encontrar um novo lugar para, enfim, estar...
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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