Caxias do Sul 22/11/2024

Presidente, eis seu novo carro!

Carros de luxo transportam os Presidentes da República do Brasil desde o início do século passado
Produzido por Luiz Carlos Secco, 13/06/2022 às 14:35:27
Foto: ARQUIVO PESSOAL

Com esse título, no dia em que o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco fez sua primeira visita a São Paulo, em 1966, após assumir a Presidência da República, fiz uma matéria apresentando o automóvel, o modelo Itamaraty Presidencial, como presente da Willys-Overland do Brasil, que se tornou o primeiro carro brasileiro a fazer parte da frota do Palácio do Planalto.

A indústria automobilística brasileira completava nove anos de atividades e, com ideia do publicitário Mauro Salles, o ousado norte-americano Wiliam Max Pearce, presidente da empresa, deu ordens para o desenvolvimento do automóvel, sob o comando dos estilistas Carlos Mauro de Araújo e Luiz Nemorino Mora e, para a parte mecânica, do engenheiro José Bento Huck.

Seguindo as características básicas dos carros presidenciais, o Itamaraty Executivo foi um automóvel equipado com motor de 3 litros, câmbio de quatro marchas, maior distância entre eixos e muito conforto interno, com sistema de ar-condicionado, bancos revestidos em couro e compartimento traseiro para garrafas de água, refrigerantes e alguns petiscos.

Willys-Overland foi o primeiro automóvel da indústria nacional a integrar a frota presidencial (Foto: Divulgação)

Como o carro ainda não estava terminado (e com as informações recebidas de amigos), pedi ao estilista, piloto, desenhista e construtor de automóveis, Anísio Campos, que desenvolvesse uma arte mostrando como seria o novo carro para utilização presidencial. Transmiti a ele as informações que havia recebido e ele produziu um desenho que dava a impressão de uma fotografia, tamanha a perfeição do trabalho.

Conforto interno é um dos diferenciais do Itamaraty Presidencial (Foto: Divulgação)

Alguns meses depois, quando ficou pronto, a Willys-Overland do Brasil fez a entrega em solenidade realizada no Palácio do Planalto e o Itamaraty Presidencial ganhou um espaço na garagem ao lado de Cadillac, Lincoln Continental, Ford Town Car e Rolls-Royce, e quebrou uma tradição de um ambiente restrito a carros importados.

Humberto de Alencar Castelo Branco foi presidente do Brasil de 15 de março de 1964 a 18 de julho de 1967, quando ocorreu o acidente aéreo em Fortaleza.

O Itamaraty Presidencial foi utilizado nas posses de Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, e também em outros compromissos oficiais dos presidentes. Além de ter sido o primeiro automóvel nacional a transportar presidentes da República, também inaugurou a fase de carros menos sofisticados, mas de muito luxo também, como ocorreu com o Chevrolet Monza, nos modelos nacional e importado. Itamar Franco, um homem de comportamento singelo, preferia utilizar um Chevrolet Opala da frota presidencial.

Com o uso do Itamaraty Presidencial, a indústria nacional passou a ter presença mais forte na frota do governo. No transporte diário e convencional, eram trasladados em modelos Ford Galaxie, principalmente por Figueiredo e João Sarney.

Os carros presidenciais no Brasil começaram a ser utilizados em 1907, no governo do presidente Affonso Pena, um modelo C.G.V (Charron, Girardot & Voigt) e, em seguida, pelo marechal Hermes da Fonseca, em 1910.

Depois vieram um Renault Type CB, Lincoln Continental, Ford Town Car e até um Rolls-Royce conversível, marca utilizada transportando presidentes e importantes visitantes por mais de 70 anos. Os automóveis Rolls-Royce foram utilizados nas posses de Café Filho, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, João Baptista Figueiredo, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Ignácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.

No governo de Fernando Henrique Cardoso, os carros mais utilizados foram os modelos Chevrolet Omega, inicialmente o modelo nacional e, algum tempo depois, o Omega produzido na Austrália.

Os Roll-Royce foram utilizados em importantes compromissos oficiais e também conduziram chefes de estado estrangeiros como o presidente francês Charles de Gaulle, em 1964, e a rainha da Inglaterra, Elizabeth II, em 1968.

Elegância clássica do Rolls-Royce presidencial (Foto; Divulgação)

Luiz Carlos Secco trabalhou, de 1961 até 1974, nos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.