Cobertos por livros, cadernos e outras tantas ferramentas, o professor adentra, antes de todos, a sala de aula e tem a tarefa de mudar o mundo. Ao fim do dia, muitas vezes cansado e afônico, abre um livro, pois aparenta não conseguir distanciar-se desses objetos mágicos.
O professor parece ter nascido envolto em palavras. Munidos de giz, quadro e saliva, são os agentes da transformação... Proporcionam experiências que marcam a vida das pessoas para sempre.
São tantas as histórias que temos sobre professores que transformaram vidas. Lembro, em especial, de uma docente: seu nome, Maria Helena. Foi ela a responsável por me conduzir a esse caminho do magistério. Apaixonada pela arte da educação, sempre estive em meio a giz e quadro, nas brincadeiras de criança. Mas também acompanhada por livros.
Maria Helena só precisou me encantar à Língua Portuguesa. Aos 13 anos, decidi o que faria por toda a vida.
Indubitavelmente, os tempos mudaram de lá para cá. O giz e o quadro não são mais nossos instrumentos essenciais de trabalho. Para alguns, nem o livro físico... São as mudanças aclamadas ao longo dos tempos. Sempre se falou da necessidade de modificar a prática pedagógica, de que ela acompanhasse esses novos tempos.
De que forma a sala de aula poderia ser um espaço de aprendizagem real e significativo? A escola há muito deixou de ser entendida como um local de transmissão de conteúdo e, sim, de pesquisa, reflexão e trocas.
E então vem uma pandemia para nos fazer acelerar esse processo! Estamos frente a um novo desafio: mediar o conhecimento, à distância. Não podemos estar fisicamente com nossos alunos. Tampouco, fazer uso do ambiente “sala de aula” – onde todas as interações acontecem. A escola passou a ser a nossa casa; o professor precisou se reinventar; a família, mais do que nunca, foi convidada à parceira.
A relação professor-aluno, hoje, tem uma nova perspectiva. Pode parecer estranho, mas estamos próximos de nossos alunos, embora separados geograficamente; estamos em seus lares. Quando iniciamos com as videoaulas, primava-se pelo “contato”, pela socialização, interação, já que nossas crianças e adolescentes estavam distanciados socialmente, isolados.
Agora, avançamos. Estamos mediando a aprendizagem. E é possível. E, principalmente, é eficaz! Obviamente, não dominamos as ferramentas tecnológicas “super-modernas”. Mas estamos em busca de aprendizado: participamos de cursos e treinamentos; somos, ainda, curiosos – o que nos impulsiona à pesquisa.
Nos encontros virtuais com nossos aprendizes, a afeição está exposta. Presente também está a escuta, o ouvido atento às necessidades deles. O conhecimento continua a ser construído. Surpreendentemente, o que tem dado certo por aqui é o que mais se aproxima de uma “sala de aula”: quadro e canetão – explicações com a letra do professor (tão familiar ao aluno e marca de subjetividade); exercícios corrigidos pela alternância de vozes; leitura mediada e compartilhada de textos literários; participação ativa do grupo. Para minha surpresa, ouvi até um “podemos fazer em duplas?”, tamanho o desejo de estar em partilha com o outro.
Fica visível o que todos os nossos alunos, nesse momento, pretendem: a normalidade. Embora desejosos há tempos de aulas diferenciadas, com uso de recursos tecnológicos, almejam o olhar, o toque, a voz do colega e do seu professor. Tenho a convicção de que, no retorno às atividades presenciais, a cumplicidade fará cada vez mais parte da rotina escolar.
Roberta Debaco Tomé é professora de língua portuguesa e literatura
e-mail: robertadebacotome@gmail.com
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