“Perceba a beleza oculta”, disse ele. E ela olhava para um lado e para outro tentando enxergar o que não conseguia, procurava algo que não compreendia e, nessa procura, se perdia... Os olhos não alcançavam, o coração se perdia, a alma em nenhuma direção ia.
Beleza oculta é o que não aparece aos olhos, não se percebe num primeiro momento, não fica evidente. Encoberto e valoroso permanece.
É para poucos, para os sábios de entendimento, para os de alma leve, para os que seguem atentos, para os que percebem as coisas pequenas e importantes da vida. Para os que possuem uma fagulha de brilho no olhar.
É um olhar do que está escondido, que poucos veem e sentem, mas, quem consegue, é dono de uma graça infinita, de serenidade, de sabedoria emocional, de coração puro, de abrangência de sentimentos...
É o que dá sentido ao simples, ao verdadeiro, ao encontro das mais sublimes essências.
É o olhar sincero, a ternura em encontrar algo que limitadas pessoas contemplam, que não muitos desvelam o que está obscuro. É a busca genuína por perceber o que pertence aos mais sublimes corações.
Aquela mulher dizia tudo com o olhar. Não se conhecia sua voz, mas era dona de uma graça infinita e de uma voz que rompia barreiras através dos tempos, dos mundos e dos aprendizados... Ela ali permanecia olhando com a alma tudo que sutilmente se movia. Com os olhos, ela falava do seu amor, da ressignificação da sua dor e das fronteiras que se tornavam ínfimas diante de seu valoroso ser.
Aquela mãe não tinha o reconhecimento de sua dedicação, mas ela sabia que trabalhou duro, na cozinha, no anonimato, embora ninguém que ela percebesse conseguia clarificar o que ela sentia. Agora, a filha ia pra sua vida e não olhava para trás e nem mesmo reconhecia o cuidado que se nutriu durante muito tempo... e ela ali permanecia, observando com o coração tudo que acontecia, sem nada dizer...
Aquele avô estava dando os últimos suspiros, as últimas despedidas. Disse adeus para muitos; para outros, no entanto, simplesmente olhou silencioso e profundamente, mas o olhar de aprovação seguiu tranquilo dentro deles...
Relatamos a beleza de estar realmente juntos, de somar forças, de validar a jornada: a sua e a do outro. Reverberamos sobre o cuidado, o desvelo, o amparo e a dedicação, que, por vezes, oculto permanece.
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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