Caxias do Sul 23/11/2024

Para os italianos, faz lembrar uma época de guerra

Rapidez inusitada do contágio é o diferencial letal do vírus, conforme os médicos
Produzido por Luca Albanesi, 23/03/2020 às 08:12:52
Foto: ARQUIVO PESSOAL

Nós, italianos, não sabemos o que vai acontecer. Foi tudo muito rápido. Inicialmente, houve uma propagação do coronavírus no norte, nas regiões da Lombardia, do Vêneto e de Piemonte. Na minha opinião, era até normal que o vírus começasse a se espalhar primeiro lá, já que é uma zona onde existe muita população, e onde as pessoas se deslocam bastante, tanto por motivos de trabalho quanto por motivos de lazer.

Neste momento, a situação no norte da Itália é crítica, pois existe um acúmulo enorme de doentes, enorme mesmo, fazendo com que os hospitais não consigam cuidar de todo mundo. O vírus atacou primeiro os idosos, que são vários por aqui, e aos poucos pessoas de 30 e 35 anos também começaram a entrar nas estatísticas da doença. Ninguém está livre.

De acordo com o que os médicos estão falando, o coronavírus não é necessariamente mais agressivo, mais letal do que outros tipos de vírus que existem no mundo, não é essa a sua principal ameaça. O problema é que ele se propaga muito rápido. É incrivelmente fácil o modo como ele passa de uma pessoa para outra, infectando um número absurdo de gente do dia para a noite.

As escolas estão todas fechadas aqui na Itália. Está praticamente tudo parado, e essa é uma medida importante que deveria ser levada a sério em todos os países. É preciso ficar em casa durante o tempo todo. Se você tiver que sair, que seja só para as coisas absolutamente necessárias, farmácia, mercado.

A sensação faz lembrar uma época de guerra. É difícil admitir, mas é isso mesmo. Já faz duas semanas que não vejo ninguém. Não vejo os amigos e nem o resto da família. A gente conversa pelo telefone, pelas redes sociais, mas não é a mesma coisa. Sinto falta. É uma situação que eu nunca pensei que pudesse enfrentar, nunca imaginei um cenário assim.

Na minha casa, aqui em Ascoli Piceno, estamos bem. Os meus pais são bastante idosos, e por isso estão tomando todas as medidas possíveis para se proteger do contágio. A única coisa que eu espero é que essa realidade passe logo, que a gente não permaneça por muito mais tempo desse jeito, que tudo volte ao normal.

Luca Albanesi é um professor italiano que vive em Ascoli Piceno, cidade com 50 mil habitantes, localizada na região do Marche, centro-leste da Itália, a 215 km de Roma.

(Tradução do texto: Marcos Mantovani)