Caxias do Sul 25/11/2024

Pandemia elimina postos de trabalho e acelera a informalidade

Pesquisa mostra o cenário do seguro-desemprego no Corede Serra de janeiro a abril de 2020
Produzido por Marcos Paulo Dhein Griebeler, 08/06/2020 às 13:58:24
Foto: ARQUIVO PESSOAL

O mercado de trabalho formal se revela desafiador e complexo frente às mudanças contemporâneas, principalmente para aqueles que vendem sua força de trabalho, ou seja, os assalariados. O Brasil possui uma herança do trabalho baseado na industrialização tardia da segunda metade do século 20, representada pelo segmento automobilístico e nas relações de trabalho prioritariamente adequadas a este setor.

Outrossim, não se pode excetuar ainda a existência de problemas em termos de substituição de mão de obra, seja ela no setor agropecuário (primário), com a eliminação do elemento humano por meio de máquinas computadorizadas e equipadas com sistemas de rastreamento, empurrando trabalhadores para o meio urbano. Como consequência, no segundo setor da iniciativa privada (indústria), o entendimento do processo produtivo e o trabalho em equipe, assim como a adaptação ao uso de softwares na empresa, se consolidam como sendo fonte da busca por uma melhor condição em termos de remuneração.

A continuidade se expressa também no setor terciário (comércio/serviços), no qual a intensidade da mão de obra é maior em razão de que a tecnologia ainda não conseguiu ser a prioridade nesse setor, muito embora o ser humano possua uma necessidade constante de contato com outras pessoas, mesmo sendo evidente a intensificação de transações comerciais via internet, eliminando postos de trabalho em locais tradicionais (lojas, farmácias, supermercados, dentre outros).

Esse pequeno prólogo revela que o mundo contemporâneo, caracterizado pelo uso intensivo de tecnologia e ainda de mão de obra, por vezes barata e consequentemente explorada em razão da necessidade de sobrevivência, traz como resultado um cenário que mostra o hiato existente entre a teoria e a prática. Em outras palavras, busca-se sempre ter uma garantia do emprego formal, seja ele por meio de políticas públicas de emprego, sejam elas ativas (intermediação de emprego, cursos de qualificação) ou passivas (seguro defeso, seguro-desemprego).

Frente à pandemia da Covid-19, o que se evidencia nos últimos dias é uma alteração no mercado de trabalho formal, oriundo de repercussões maiores do que a simples eliminação de postos de trabalho em determinados setores econômicos, o que não é diferente em Caxias e região. A presença do desemprego, em muito representado pelo alto grau de informalidade no país, é reforçada a partir dos benefícios concedidos para cerca de 75 milhões de pessoas.

Ao mesmo tempo, os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam que países como o Brasil, a Índia e a Nigéria são os mais afetados na perda de empregos. No caso do Brasil, isto se apresenta em muito evidenciado por praticamente metade da população do país (cerca de 105 milhões de pessoas), apesar de estarem aí somadas tentativas desnecessárias de solicitação de recursos temporários.

De uma maneira geral, quando se pensa na necessidade de encaminhamento do benefício do Seguro Desemprego (SD), existe todo um processo que deve ser seguido a fim de comprovar o vínculo de trabalho até então existente com o empregador. Segundo dados do Ministério da Economia, mais de R$ 10 bilhões (R$ 10.530.009.598,84) foram pagos em quatro meses no Brasil com o benefício do SD. No caso do Rio Grande do Sul, no mesmo período, os valores somam mais de R$ 600 milhões (R$ 609.527.229,12) para trabalhadores gaúchos.

Em um caráter mais regional, Caxias e região possuem uma concentração importante de população do Rio Grande do Sul. Segundo o último Censo (2010), contando com cerca de 900 mil pessoas nos 32 municípios que compreendem o Conselho Regional de Desenvolvimento – Corede Serra. Frente à proporção estadual, este recorte territorial respondia, nos quatro primeiros meses do corrente ano, por 16.637 encaminhamentos (11,35% de participação no Estado do Rio Grande do Sul).

Dito de outra maneira, os municípios com o maior número de encaminhamentos estavam concentrados em Caxias do Sul (9.166 solicitações), seguido por Bento Gonçalves (2.040). Na sequência, figuravam Farroupilha (1.195), Garibaldi (649) e Flores da Cunha (604). Apesar de os números de solicitações estarem presentes em todos os municípios do Corede Serra, ressalta-se que a visão não pode se resumir apenas aos números de pessoas que perderam o emprego.

Além do resultado exposto, outro item analisado é o próprio uso da internet para a solicitação do seguro-desemprego pelos trabalhadores residentes no Corede em discussão. Ou seja, a predominância ainda é do comparecimento do trabalhador a um posto do SINE (9.425 pedidos – 56,65%), mas se evidencia também que a solicitação via web ocupa uma considerável proximidade (7.212 solicitações – 43,35%), se levada em conta a possibilidade de evitar o contato presencial para tanto, principalmente, em momentos como o que se vive atualmente frente à pandemia de Covid-19.

Em outras palavras, o cenário demanda a atenção dos governantes locais, pois é no município que o trabalhador reside e demanda por produtos, serviços e, por extensão, pode estar acompanhado de sua família. Sem conseguir uma nova ocupação e na falta de recursos financeiros, até mesmo o desemprego aberto (os chamados “bicos”) também pode não estar disponível. Com uma menor absorção de pessoas na região, cabe destacar que, sem novas vagas de trabalho, o consumo continua, compromissos chegam para serem pagos e a informalidade se acelera.

De modo geral, os dados brevemente expostos são itens que merecem atenção nas próximas semanas, a fim de verificar como se dará o comportamento da solicitação do benefício, tanto em âmbito federal, estadual e regional. Somado a isso, a própria necessidade de conhecer os dados referentes aos trabalhadores é importante, principalmente para que se possa compreender a participação dos setores, sejam eles na área industrial ou de comércio/serviços, atividades prioritariamente urbanas.

Marcos Paulo Dhein Griebeler é doutor em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, professor do Centro de Negócios do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG e coordenador do Observa Serra da FSG. Essa pesquisa é assinada por ele em parceria com a bolsista Amanda Brisotto Clemes,

E-mail: marcos.griebeler@fsg.edu.br.