Caxias do Sul 24/11/2024

Os Scalabrinianos na imigração italiana do RS

Missionários religiosos deram contribuição vital para a formação da região serrana
Produzido por José Clemente Pozenato, 10/10/2024 às 08:48:05
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

Na história da imigração italiana no Rio Grande do Sul, tornou-se quase uma marca de origem a afirmação de que ela foi construída com sucesso tendo por base a fé e o trabalho.

No primeiro item, o da , uma contribuição fundamental, que deve ser relembrada neste sesquicentenário, foi sem dúvida a dos Missionários Scalabrinianos. Na obra aqui já citada, Contributo alla Storia della presenza italiana in Brasile, publicada em Roma por ocasião do centenário da imigração, foi dedicado um capítulo inteiro sobre a presença dos Scalabrinianos no estado do Rio Grande do Sul, assinado por Mario Francesconi.

Para situar na história, essa congregação foi criada, em 1887, pelo bispo italiano João Batista Scalabrini (1839-1905). A Itália estava já em pleno período da grande migração, e para atender os migrantes é que ele fundou os Missionários de São Carlos e, dois anos depois, a associação laica São Rafael, também para apoiar os migrantes no plano assistencial. Com o objetivo de assistir as migrantes femininas, fez nascer também as Missionárias de São Carlos.

Vinte anos depois do início da imigração, começaram a chegar os primeiros padres Scalabrinianos ao Rio Grande do Sul, que atenderam a região de mais difícil acesso das colônias italianas do estado, conforme relata Mario Francesconi:

Por vontade da hierarquia local, os limites geográficos de sua presença eram circunscritos na região correspondente aos atuais municípios de Encantado, Guaporé, Serafina Correa, Nova Prata, Muçum e em parte de Veranópolis, Bento Gonçalves e Garibaldi. Se tratava da região talvez mais difícil, pela aspereza orográfica, pela falta de estradas, pela escassez de produtividade e de comércio, da assim chamada “zona colonial italiana”.

Na região serrana, a primeira colônia atendida pelos Scalabrinianos foi Nova Prata, que na época se chamava Capoeiras e era distrito de Alfredo Chaves, hoje Veranópolis, com o rio das Antas dividindo o território pelo meio... O P. Antonio Seganfreddo, em 1896, foi nomeado para “permanecer fixo, na qualidade de coadjutor, em Capoeiras”, onde havia cerca de 500 famílias, segundo carta dele aos superiores da Congregação. Segue o relato:

P. Seganfreddo se dedicou logo a um grande trabalho, ajudado nos primeiros anos por uma saúde invejável, embora não fosse mais um jovem. Todo dia saía em giro pelas linhas a cavalo ou a pé, passava dias inteiros no confessionário, era alegre e expansivo com todos. E tinha que trabalhar quase sempre sozinho, em condições ambientais e sociais totalmente primitivas, em colônias muito pobres.

Em 1898 começou a construir uma igreja de alvenaria em Capoeiras, conforme relatou em carta:

“Fiz os preparativos para construir uma nova Igreja, e para animar a população mandei fazer, por minha conta, 10.000 tijolos, mas não terminei ainda o pagamento. Então, para fazer tudo isso recorri aos colonos, e todos corresponderam e vieram em meu auxílio, me trazendo de saída mais de 50 sacos de cimento. [...] Fiz também uma economia em tudo, comendo polenta e bebendo o vinho dos Apóstolos, isto é, água!”

Há muitas coisas interessantes escondidas da memória pública!

Em conclusão, fique aqui também registrado que o bispo fundador da Congregação, João Batista Scalabrini, visitou as colônias em que trabalhavam seus missionários no ano de 1904. Foi beatificado em 1997, pelo Papa João Paulo II, e proclamado santo há apenas dois anos, em 9 de outubro de 2022.

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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