Caxias do Sul 21/11/2024

Os desafios ambientais do foodservice

Como a gestão de resíduos pode ajudar o setor a reduzir impactos na natureza
Produzido por Simone Galante, 23/09/2024 às 09:31:50
Simone Galante é fundadora e CEO da Galunion Consultoria
Foto: ARQUIVO PESSOAL

O mercado de foodservice no Brasil é um setor dinâmico e em constante crescimento, sendo essencial para a economia e o bem-estar da população. No entanto, sua operação intensiva pode resultar na geração de grandes volumes de resíduos e lixo, o que representa um desafio significativo tanto para a sustentabilidade ambiental quanto para saúde pública.

Abrangendo uma ampla gama de atividades, desde a produção agrícola até a comercialização e o consumo de alimentos, resquícios são gerados em cada parte deste processo. Nesses casos, o descarte de cascas, sementes, bagaços e restos de alimentos é comum. Além disso, o setor também sofre com a produção de resíduos que incluem embalagens, sobras de comida e produtos perecíveis que não foram vendidos a tempo.

Atualmente, estima-se que o Brasil produza cerca de 82 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano e uma parte significativa desse total vem do setor alimentício. Já o lixo gerado em eventos em geral soma 11 mil toneladas por ano. Um dado alarmante é que apenas 4% dos resíduos coletados são reaproveitados e 39% são despejados a céu aberto e de maneira inadequada.

A falta de uma gestão adequada e eficiente desses resíduos contribui para uma crescente crise ambiental e sanitária. Ambientalmente, o descarte incorreto desses itens pode levar à contaminação do solo e das águas, além de gerar gases de efeito estufa, como o metano, que é liberado durante a decomposição de resíduos orgânicos em aterros. A acumulação desses tipos de lixo em aterros sanitários contribui para a degradação ambiental e pode afetar a qualidade de vida das comunidades vizinhas. É uma questão pela qual todo o setor passa, sem exceção, e precisamos ficar cada vez mais atentos.

Socialmente, a má gestão de resíduos também afeta a saúde pública. Resquícios alimentares podem atrair roedores e insetos, que transmitem diferentes doenças e aumentam o risco de contaminação. Além disso, a ineficiência na gestão pode levar a problemas de infraestrutura e a um aumento nos custos de limpeza e manutenção urbana. Para enfrentar os desafios impostos pela geração de resíduos no mercado de foodservice é essencial adotar uma abordagem integrada e sustentável.

Nas pesquisas realizadas por nós com foco nos operadores que atuam no setor, questões voltadas ao ESG seguem em alta. Em agosto deste ano, produzimos uma nova edição do levantamento "Tendências do Ecossistema de Foodservice", que apontou que 48% dos independentes e 53% das redes respondentes investem em ações com foco na redução de desperdício de alimentos, 52% dos independentes e 54% das redes em sustentabilidade e 52% dos independentes e 44% das redes em gestão de resíduos, ações que estão diretamente ligadas a essa preocupação da geração e destinação correta do lixo. Quando levamos em conta os números dos Top Performers (com vendas superiores ao ano anterior e lucro), eles estão aderindo mais a essas práticas, com 61% investindo em sustentabilidade, 59% na redução do desperdício de alimentos e 60% na gestão de resíduos.

Como catalizadores de informações e conhecimento no segmento de alimentação preparada fora do lar, é nosso dever incentivar empresas que atuam com alimentação a investir em práticas que visem a redução do desperdício desde a produção até o consumo. Isso inclui técnicas de planejamento de produção, otimização dos processos logísticos e a promoção de uma cultura de consumo consciente. Outra questão importante é incentivar a separação e o tratamento adequado dos resíduos, de acordo com diferentes tipos e destinações. A compostagem de resíduos orgânicos e a reciclagem de embalagens, por exemplo, podem reduzir significativamente o volume de lixo enviado aos aterros sanitários e promover a reutilização de materiais.

Também é essencial ressaltar a importância de os negócios do setor pensarem em como ter cardápios de baixo desperdício na concepção do menu e seus ingredientes, como uma forma de se antecipar ao problema que estamos tratando. Uma opção que já ocorre em alguns estabelecimentos é ter soluções de compostagem in loco, quando há viabilidade para este tipo de projeto. As marcas também devem investir em campanhas de conscientização para os consumidores, produtores e prestadores de serviços sobre a importância da gestão adequada de resíduos e as práticas sustentáveis.

Sabemos que a geração de resíduos e lixo no mercado de foodservice no Brasil é uma questão complexa e que requer a colaboração e co-criação de todos os setores da sociedade. A integração de práticas sustentáveis, a educação e até mesmo a implementação de políticas públicas eficazes são passos cruciais para tratarmos melhor esse tema. Ao adotar uma abordagem proativa e consciente, é possível reduzir o impacto ambiental e promover um futuro mais sustentável para o setor alimentício e para o país como um todo.

Simone Galante é fundadora e CEO da Galunion Consultoria, empresa especializada em alimentação e catalisadora de conhecimento, network e inovação em prol dos negócios e dos profissionais do setor.