Tinha um lá que era o vendedor de cavalo. Outro empreendedor de bairro.
Só vendia. Criar, quem criava era outro, lá pra fora. Lá pra fora onde? O Albino não dizia, não sabia.
Albino era o que vendia, no caso. Ficava num galpão, lá num terreno baldio. O bairro já, né, como diz o outro, mas o Albino insistia em morar no galpão. Fazia parte do negócio, decerto.
Se tu queria um cavalo, digamos, pra ir pegar lixo no centro, ou pra dar bandinha com a prenda no findi, o Albino era o cara.
Quando que deu a polêmica lá, aquela vez, que não sei quem tava vendendo carne que não sei, diz que era de cavalo, o Albino só balançava a cabeça assim, mascando uma azedinha.
Bando de amador, parecia que ele ia dizer.
Mas não dizia, que o seu Albino era peão de chácra, posteiro, vindo lá duma milonga quieta. Só dizia não, pra começar as frases que ele queria afirmar uma coisa que ele acreditava, ou dizia sim, sim, pra concordar com o que tivesse falando com ele.
Não, olha, esse mundo, dizia o Albino. E por aí tu já sentia que o homem tinha opinião.
Os cavalos ele deixava pastar na volta do rancho. Uns dois três guaipeca, que pareciam mais cachorro mesmo, aqueles cavalos. Se vinham parar ali no bairro, certo que não serviam mais pra nada lá no haras, na cabanha, essas palavras chiques. Se é que vinham de haras e cabanhas. Eu, pra mim, o seu Albino tinha trazido aqueles cavalo tudo junto numa sacola, dessas de rodoviária. Tinha enfiado aqueles cavalos todos na mala que nem roupa de solteiro, quando vai de muda.
Mas tinha quem comprava, pelo jeito. Volta e meia a gente ia brincar no potreiro e encontrava o seu Albino desacorçoado na frente da choça dele.
Que que foi, seu Albino, tudo bão?
Vendi um cavalo, ele dizia. E balançava a cabeça como quem tinha perdido no bicho.
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.
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