Caxias do Sul 23/11/2024

O valor do planejamento

As diretrizes de gestão, quando bem organizadas e executadas, criam mais alternativas na condução dos negócios em momentos como este
Produzido por Gustavo Saltiél, 28/04/2020 às 08:54:34
Foto: REGINA LAIN

Planejamento é essencial para enfrentar qualquer crise, ainda mais uma crise sem precedentes como a que vivemos em função da pandemia do coronavírus. Nesse caso, muitos empresários, sejam de micro ou de grande porte, foram pegos de surpresa e obrigados a rever estratégias e investimentos. O planejamento, então, ganha mais peso e é, sim, essencial para que a administração de uma empresa seja eficaz e consiga superar momentos como esse de forma mais estruturada.

Muitas teorias acerca de modelos de planejamento são de conhecimento e acesso da grande maioria das pessoas. A grande diferença está na capacidade de execução daquilo que “colocamos no papel”. Situações como a que estamos presenciando com a pandemia da Covid-19 são extremamente complexas de serem previstas em um planejamento como fato isolado, porém as diretrizes de gestão, quando bem organizadas e executadas, criam mais alternativas na condução dos negócios em momentos assim.

A grande maioria das empresas no Brasil possui poucas reservas de emergência, aquelas aplicações em renda fixa e liquidez imediata que devem ser constituídas ao longo do tempo. O momento demanda, sim, um planejamento, e agora é a hora de parar e refletir com ponderação o que faremos.

Sugiro aqui questões práticas e imediatas:

- Organizar e dividir as despesas entre custos fixos e variáveis. Isso é fundamental principalmente às empresas que não têm clareza sobre as suas despesas;

- Definir a priorização de ações a serem tomadas para cada uma dessas contas, elencando por grupos, por exemplo: as passíveis de terem os seus vencimentos prorrogados; as que podem ser reduzidas com renegociações de contratos; aquelas que podem deixar de existir (e com certeza você vai encontrá-las); as que são essenciais e devem ser priorizadas (folha de pagamentos, por exemplo, é essencial e contribui para que a cadeia de consumo continue existindo);

- Desenvolver ou otimizar novos canais de distribuição e comercialização para o seu negócio (redes sociais, aplicativos de marketplace e delivery são algumas possibilidades);

- Avaliar o período que a empresa consegue manter-se sem a necessidade de aumento do seu endividamento e, quando for necessário, pesquisar de forma organizada alternativas para empréstimos. Com a redução da taxa Selic e o crescimento das cooperativas de crédito e das fintechs no mercado de crédito, o Brasil está tornando-se muito competitivo e com muitas possibilidades efetivamente interessantes (com carências para começar a pagar, taxas bem atrativas e agilidade).

EFETIVAÇÃO DE RESERVAS

Em relação à gestão das finanças pessoais e empresariais, um dos aspectos que mais são planejados e não executados é a efetivação das reservas. A organização financeira deve contemplar grupos de reservas, que devem ser constituídas, de forma bem simplificada: as emergências para fluxo de caixa (cancelamento de pedidos, inadimplência ou outros fatores do dia-a-dia) e as reservas para expansão e reinvestimento no negócio (tecnologia, novas máquinas e equipamentos, renovação de frotas, aquisição de outras empresas/negócios).

A necessidade de reserva varia muito com cada tipo de negócio. No ramo de serviços, a necessidade de capital de giro é normalmente inferior para as empresas que possuem grandes estoques de produtos, por exemplo. Tudo começa com um bom planejamento orçamentário, e nele indica-se que as empresas possuam pelo menos três meses das suas despesas fixas em reservas emergenciais, sendo recomendado ampliar para seis para que estejam efetivamente com uma boa estrutura de liquidez.

Mensalmente, a empresa deve ter no seu orçamento uma rubrica que reflita essa reserva como uma “despesa” de fato, não devendo ser considerada como “lucro” no mês, e sim uma aplicação praticamente automática. Importante: as empresas que distribuem todo o seu lucro tendem a não sobreviver no longo prazo. O lucro precisa ser reinvestido em proporções adequadas dentro do planejamento do negócio.

CENTRO DE CUSTOS E INVESTIMENTOS ESSENCIAIS

A distribuição dos custos varia muito de acordo com cada ramo de negócio. O fundamental é que o planejamento orçamentário compreenda de forma estruturada todos os tipos de custos, agrupando-os por “centro de custos”.

Dessa forma, a visão financeira possibilita uma gestão mais efetiva em análises de impactos no negócio como um todo. É fundamental a comparação com as estruturas de custos e receitas de forma setorial, criando assim os famosos “benchmarks”, buscando indicadores semelhantes (ou melhores) que os médios setoriais.

As reservas financeiras buscam uma maior gestão de fluxo de caixa e de capacidade de investimento por parte da empresa. A questão relevante é que valores muito expressivos em aplicações financeiras podem demonstrar certa limitação da empresa em aumentar o seu negócio principal, pois os recursos financeiros tendem a ser reinvestidos no seu próprio negócio para aumento da sua participação de mercado.

Caso a empresa esteja com o nível de reservas muito elevado e a tendência é de que não seja possível alocar estes recursos no core business para aumento de escala e lucro, é fundamental que o planejamento esteja em diversificação de produtos e serviços e na avaliação da possibilidade de outros negócios.

*Gustavo Saltiél, diretor-geral da Unicred Integração