Em 1987, o piloto brasileiro Raul Boesel, com um Jaguar XJR-8, sagrou-se campeão mundial de Marcas, na categoria Esporte-Protótipo, que utilizava protótipos como os do atual Mundial de Endurance, com cinco vitórias em pistas europeias.
No final de agosto deste ano, ele foi homenageado pela conquista inédita e única, não por uma empresa ou entidade, mas por pilotos, hoje amigos, que foram adversários, tiveram oportunidade de enfrentá-lo em competições nacionais e reconhecem a importância de sua conquista para a história do automobilismo brasileiro.
Participei dessa homenagem e comemoração e esses pilotos comentaram que, para o público, a categoria mais importante é a Fórmula-1, que deu oito títulos mundiais para os brasileiros, mas que a conquista de Raul Boesel tem igual importância. Diferente da Fórmula-1, a categoria Esporte-Protótipo, assim como várias outras, não tem a mesma divulgação, o que não diminui o valor da conquista de Boesel.
A ideia da homenagem foi de Paulo de Mello Gomes, um dos grandes pilotos brasileiros, que reinou nas categorias Turismo e Stock Car, conduzindo diferentes automóveis, especialmente os Maverick da equipe Ford e os Chevrolet Opala da Stock Car, colecionando uma série de vitórias e campeonatos com sua forma aguerrida de pilotar.
Raul Boesel já recebeu outras homenagens, mas nenhuma delas transmitiu o sabor e a alegria da recente promovida em São Paulo. Por uma simples razão: foi a demonstração do respeito, admiração e reconhecimento de suas virtudes pessoais e esportivas e contou com a adesão de outros pilotos, mecânicos, instrutores de pilotagem, jornalistas e promotores de eventos e competições, como da Mil Milhas Brasileiras, uma das mais famosas do país.
A homenagem a Raul Boesel proporcionou um dia de agradáveis recordações, com a participação de muitos pilotos, como Ingo Hoffman, Alex Dias Ribeiro, Luiz Evandro Águia e outros que recordaram episódios ocorridos em pistas do Brasil.
Causou emoção ouvi-los lembrar de empolgantes disputas por posições, algumas delas ousadas demais, com esbarrões e fechadas, sempre desculpadas ou perdoadas pelas vítimas por entenderem que foram naturais lances de corridas.
O título de campeão mundial da categoria Esporte-Protótipo foi conquistado por Raul Boesel em 1987, com vitórias nas etapas de Jerez, na Espanha; Silverstone e Brands Hatch, na Inglaterra; Nürburgring, na Alemanha e Spa-Francorchamps, na Bélgica, totalizando 127 pontos contra 102 da dupla Jan Lammers (Holanda) e John Watson (Irlanda). Por serem de longa duração, as corridas eram disputadas em duplas, nem sempre as mesmas, e Boesel somou o maior número de pontos.
Esse título que Raul Boesel garantiu para o Brasil é tão importante quanto a Fórmula-1 e a Fórmula Indy, pelo nível dos participantes e, também, pelo interesse das fábricas de automóveis na divulgação das marcas vencedoras.
Raul Boesel participou de todas as principais categorias mundiais do esporte (Foto: Divulgação)
O Jaguar XJR8 pilotado por Raul Boesel tinha motor V12, de 7 litros de capacidade cúbica, com potência superior a 500 cv e câmbio de seis marchas. Boesel explicou ser um automóvel arisco, às vezes de reações surpreendentes, que exigem muito cuidado para ser conduzido, exigindo extrema concentração para evitar surpresas em suas reações.
Para Raul Boesel, foi um carro que deixou saudade, pelo comportamento em curvas, exigência de muita intimidade e os elevados níveis de torque e potência. Para resumir o prazer que o Jaguar XJR8 transmitiu a ele foi atingir a velocidade de 363 quilômetros na longa reta de Hunaudiéres, no circuito de Le Mans e, no final, ter o mesmo domínio do sistema nervoso para contornar a desafiadora curva Mulsanne.
Na homenagem que recebeu, Raul Boesel sentiu a mesma emoção das corridas por fazê-lo lembrar de momentos marcantes de sua carreira esportiva.
Raul Boesel foi um esportista com estrela, que começou a competir aos 16 anos pilotando karts e seu primeiro título foi o de campeão curitibano e, depois de participar da categoria Turismo, em 1977 e 1978, foi eleito piloto revelação na categoria Stock Car no ano seguinte.
Em 1980, foi para a Inglaterra para competir na Fórmula Ford 1600 e, no ano seguinte, mudou para a Fórmula-3 inglesa obtendo o terceiro lugar. Ingressou na Fórmula-1 em 1982, competindo na equipe March e, em 1983, na Ligier. Me fez lembrar de José Carlos Pace, que ingressou na Fórmula-1 pela March e, depois, pela Surtees, que não tinham carros para grandes resultados.
Cansado de resultados modestos, em 1985 foi para os Estados Unidos para disputar a Fórmula Indy, onde chamou a atenção por ter sido o estreante com a volta mais rápida nos treinos da tradicional prova 500 Milhas de Indianápolis. Em 1989, foi o terceiro classificado nessa prova e o quinto no campeonato de 1993.
Esteve por 13 vezes no grid das 500 Milhas de Indianápolis em 1985, 1986, 1988, 1989, 1990, 1992, 1993, 1994, 1995, 1998, 1999, 2000 e 2002. Raul largou na primeira fila em três oportunidades: 1993, 1994 e 2002.
Um dos principais resultados que obteve na Fórmula Indy foi em 1994, na pista oval de Michigan. Após a segunda relargada, Boesel assumiu a liderança e sua equipe esperava a sua primeira vitória, mas, quase ao final, o motor do carro quebrou, o que o impediu de comemorar o primeiro lugar. Seu currículo na Fórmula Indy constou de três poles, uma volta mais rápida e oito pódios, com cinco segundos lugares e três terceiros.
Com a equipe Jaguar, além do título mundial, venceu a corrida 24 Horas de Daytona, em parceria com Martin Brundle e John Nielsen e, em 1991, conquistou a segunda colocação na 24 horas de Le Mans, igualando o feito de José Carlos Pace, com uma Ferrari 512 e, posteriormente, Lucas Di Grassi, com a Audi.
Atualmente, diverte-se pessoalmente e alegra muitas pessoas com a atividade de DJ, com apresentações em festas e shows ao som e ritmo da griffe Raul Boesel.
Luiz Carlos Secco trabalhou, de 1961 até 1974, nos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen. Em 1993, assumiu a direção da Secco Consultoria de Comunicação.
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