Lisboa, a cidade da luz dourada, está deserta. O silêncio domina o ambiente naquela que é a meca do turismo, que ganha desde 2017 o prêmio de melhor destino turístico do mundo. É comum a gente ver multidões fazendo fila para entrar nos palácios, castelos e monumentos. É comum ouvirmos vários idiomas que nem sequer reconhecemos. Agora, o normal é ouvir o silêncio.
Em Portugal, o coronavírus apareceu no dia 12 de março, no norte do país, na região da bela cidade do Porto. Em apenas uma semana, o país decretou Estado de Emergência e já soma centenas de casos confirmados do Covid-19 e milhares de outros esperando por confirmação. Eu disse “milhares” em um país pequeno, com pouco mais de 10 milhões de habitantes. Se os cálculos dos matemáticos se confirmarem (por enquanto, as contas batem), em mais sete dias, passaremos dos trinta mil infectados.
Eu estou escrevendo este artigo de casa. Não saio há uma semana, salvo ir ao supermercado – o que é condicionado, entram poucas pessoas por vez – e ir ao banco ou farmácia. Aqui, está tudo fechado: lojas, cafés, restaurantes, shoppings. Os transportes públicos ainda funcionam, pois ainda há pessoas que têm de trabalhar presencialmente. Mas não é preciso validar os bilhetes, pois as máquinas de validação ficam junto ao motorista e todos entram por trás. Os ônibus e bondinhos param em todas as paradas para não ser necessário que as pessoas toquem e solicitem descer. Os trens e o metrô também abriram suas cancelas, além de, em todo o transporte público, ter havido uma redução drástica nas linhas.
As aulas em escolas e universidades foram suspensas na semana passada. As tradicionais férias da Páscoa foram antecipadas no caso das escolas e, no ensino superior, há aulas via Skype e trabalhos sendo feitos em casa e enviados aos professores.
O Estado de Emergência decretado às 0h00 do dia 19 de março sugere que ninguém saia de casa. Apenas para ir ao mercado, farmácia, trabalhar e passear com animais domésticos. Sugere, mas não determina. Vai da consciência de cada cidadão. Mas as autoridades podem, sim, mandar as pessoas para casa e, em caso de desobediência civil, a pena pode ser uma multa ou prisão.
O Concelho de Ovar decretou estado de calamidade pública pelo alto índice de contaminação. Ninguém entra e ninguém sai desta cidade no centro do país, perto da famosa Aveiro. Além disso, Portugal fechou a fronteira com a Espanha no dia 16 de março. São nove os pontos de fronteira terrestres entre os dois países. Só podem cruzá-la veículos de carga, profissionais de saúde ou residentes em Portugal. Mas, para o último caso, devem permanecer por aqui, sem data para voltar à Espanha.
Espero que isso passe logo. Estar em casa fechado é estranho, confesso. Somos acostumados a estar com pessoas, fazer coisas e, repentinamente, vemos isso mudar. Eu escrevo artigos para o meu site, gravo vídeos para o meu canal do Youtube, arrumo coisas, separo roupas para doar, assisto filmes.
Aqui em Portugal, o governo vai apoiar as empresas para que não fechem depois desta tormenta. Muitos apoios estão sendo anunciados, mas até agora não vi nada que me tranquilizasse. Sou sócio de uma empresa de turismo, fazemos passeios pelo país e estou bastante preocupado. Estávamos super bem, compramos mais um carro e, agora, zero receita. Mas as contas seguem caindo e têm de ser pagas. Sei que o mais importante é a saúde, mas a preocupação é válida e afeta a nossa saúde esta incerteza que se instalou por todo o mundo e com bastante força aqui na Europa, onde o vírus está muito disseminado.
Mas quem de fato merece toda a nossa vênia são os incansáveis profissionais da área da saúde, que estão fazendo plantões sem hora para acabar e trabalhando dias a fio.
Emílio Caio Ferasso, caxiense, reside em Lisboa desde 2013. É jornalista, empresário sócio do Portugal Afora e Youtuber de cinema no Coisas de Cinema.