Caxias do Sul 28/04/2025

O sentido da vida

Reflexões a partir da leitura de obra do pensador Contardo Calligaris
Produzido por Neusa Picolli Fante, 12/04/2025 às 10:21:11
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas
Foto: Morgane Coloda

Procuramos o sentido da vida em diferentes lugares, de diversas maneiras. Às vezes, escondido ele permanece. Algumas pessoas têm claro em si qual o sentido que está dentro de si e como é esse seu seguir para conquistar algo desvelado ou que ainda não está totalmente claro, mas que acreditam que exista e seguem com determinação nessa busca.

O psicanalista e escritor Contardo Calligaris, em seu livro (“O Sentido da Vida”), diz que “o sentido da vida é a própria vida”. Impactei nessa colocação, pois, sim, ela é o sentido e o caminho, como não compreender dessa maneira, simples, ardente, vibrante de sentido? Essa é uma sábia lição de alguém que eu assisti uma palestra há muito tempo e, agora, terminando de ler seu livro, me impacta pela profundidade do dito que chega até mim. Sem dúvida, escrito por um sábio homem.

No entanto, antes de encontrar o sentido, precisamos ter claro quem somos e como somos. Depois de nos conhecer um pouco mais, mergulhamos em outras buscas, como: de direção, de marcas que desejamos deixar, de construir e de edificar nas pessoas à nossa volta e no mundo.

Em certo momento, esquecemos do simples, do belo. Esquecemos até de brincar livre com o pé no chão. Esse resgatar, ou seja, se resgatar significa encontrar o início do caminho, para descobrir o sentido tanto desejado... Perder a noção de quem somos e do que desejamos nos faz nos distanciar da nossa essência, inclusive de descobrir a razão e a direção que a nossa alma tanto deseja alcançar.

Essa vida que nascia e que morria constantemente também se mostrava na jovem que perdeu a irmã gêmea e que verbalizava “morreu uma parte de mim naquele dia, naquela estrada”. Andei sobre a densa morte que ela havia vivido e que a havia transformado para sempre. Percebi que batia diferente em mim, não era igual ao que ela vivera. E ali me dei conta de que cada vivência é única. Assim como cada sentimento que se manifesta, se mostra diferente.

Como perder, não encontrar ou o mais difícil reconstruir o sentido dessa vida que apaga o brilho do nosso olho, para que enxerguemos além do que está presente, além do proposto. Como não enxergar que podemos ir além do que o outro imagina, prevê ou sente?

E, assim, a busca de sentido está atrelada ao que vivemos, ao que transformamos e à nossa força de nos reconstruirmos com as cinzas que transformam a nossa compreensão. Principalmente, com a pequenez que nos sentimos em muitos momentos.

Precisamos ter claro que nem sempre o sentido vem fácil, desvendado. Muitas vezes o descobrimos em estradas sinuosas e com muitos percalços, e que a cada um pertence o que lhe cabe e como transforma o que até ele chega na sequência dos dias, que se chama – andar pela VIDA...

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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