A cada 21 segundos, a população brasileira ganha um novo habitante. Está lá no site do IBGE, numa página com um tracinho que vai se completando na cor laranja, no estilo “carregando”, ou “loading”, como preferem as novas gerações.
Até onde entendi lendo o método de projeção de população do IBGE, não faz muita diferença se a pessoa se torna brasileira por ter saído do útero de sua mãe gentil ou se ingressa, como estrangeiro, nesta autoproclamada pátria amada. A estatística geográfica não é xenófoba.
Desde que comecei a escrever este texto, passamos de 214 milhões, 970 mil e 970 faladores de “pra mim fazer” para 214 milhões, 970 mil e 980 discípulos de Paulo Coelho. Portanto, enquanto eu escrevia, surgiram dez novos consumidores de feijão com arroz (espero que pelo menos isso eles tenham para comer).
Outro dado que me chamou a atenção é que, neste momento da História, a população mais populosa está na faixa dos 30-34 anos. O gráfico, portanto, está cada vez mais parecido com um losango. Em 2000, ainda se parecia com uma pirâmide e, em 2060, vai se tornar uma pirâmide invertida.
Isso significa que a gurizada que, em 2000, era a maioria, hoje é a maioria adulta e, em breve, será a maioria idosa. Nesse ritmo pouco sincopado, o Brasil chegará na virada para o século 22 com a mesma população que tinha na virada para o século 21, ou seja, apenas 180 milhões em ação. Menos do que se projeta para a mana Angola. Nesse ritmo decadente, o bravo povo brasileiro deixará de existir, caso os youtubers não comecem imediatamente a fazer youtuberinhos.
Estou contribuindo cientificamente com literatura, não com matemática. Mas é como diria Stefan Zweig, que engrossou o escrete canarinho nos anos 1940: o “Brasil é o país do futuro”. Um futuro cheio de vovôs e vovós sem netos. A categoria de neto se tornará mais obsoleta do que a de concunhado. O Zweig deve ter considerado esse cálculo, pois fez questão de parar de engrossar qualquer população pouco depois de publicar o famoso ensaio.
Não é um cenário que me perturba. Como todo brasileiro forjado na arte da improvisação, na hora em que apertar, saberei o que fazer. Nem que seja um filho.
Paulo Damin é escritor e tradutor em Caxias do Sul.
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