Por ocasião do cinquentenário da inauguração do Monumento Nacional ao Imigrante (celebrado em 2004), escrevi um texto de cunho teatral, para ser utilizado num vídeo. Aqui o reproduzo em parte, vinte anos depois.
HISTORIADORA: Consumado o pacto com o Governo Federal, podia agora ser erguido o Monumento ao Imigrante. O escultor gaúcho Antônio Caringi foi o vencedor do concurso para escolha do projeto.
(Imagens da maquete do Monumento com voz de Caringi explicando:)
CARINGI: O monumento representa um casal de pioneiros, cheios de fé e de esperança – ela, numa atitude de prece; ele, como que perscrutando o futuro, confiante. O grande obelisco, com cerca de 25 metros de altura, simboliza a Fé, e possui três altos-relevos: distribuição das terras, progresso e defesa da Pátria. A estátua do casal terá quatro metros e meio de altura e será executada em bronze. Tudo isso em cima de uma cripta que será no futuro um museu. O basalto, pedra característica da região, será aproveitado na realização do conjunto monumental, que será construído na entrada da cidade, ao lado da Estrada Federal.
HISTORIADORA: O projeto inicial teria modificações bem significativas. A principal foi a de alterar o nome de Monumento ao Imigrante Italiano para Monumento Nacional ao Imigrante, acredita-se que por sugestão do Presidente Getúlio Vargas. Caringi introduziu mudanças também na forma das estátuas. A mulher deixou de ter as mãos postas em prece e passou a segurar uma criança no colo. E o homem ganhou uma enxada ao ombro e o braço erguido sobre os olhos.
Na Festa da Uva de 1954, finalmente, foi inaugurado o Monumento Nacional ao Imigrante, pelo Presidente da República Getúlio Vargas.
(Discurso de Vargas na cerimônia de inauguração:)
GETÚLIO VARGAS: Brasileiros e brasileiras:
O Rio Grande e o Brasil se encontram aqui.
Este monumento é uma homenagem não apenas àqueles que aportaram nestes rincões abençoados, mas a todos os imigrantes estrangeiros que participaram da obra de engrandecimento material e espiritual da pátria.
A Festa da Uva é a apoteótica demonstração da laboriosidade dessa vossa gente empreendedora e progressista, sustentáculo do trabalho, esteio da ordem e fonte de civismo.
Que os céus preservem, na alma de nossa gente, esse admirável senso de solidariedade humana, a fim de que o Brasil, na marcha pelo seu engrandecimento, com o labor de seus filhos e o esforço dos que vêm de outras plagas, se torne cada vez mais a terra prometida, uma nação de nações, um porto de esperança, refúgio de paz.
(Apoteose com imagens do Monumento Nacional ao Imigrante. Música triunfal, brasileira)
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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