Quando consideramos o impacto social ou econômico da morte de uma mulher com câncer, devemos reconhecer que, muito mais do que um problema pessoal ou familiar, estamos frente a uma catástrofe social. Por todas suas consequências, a influência desproporcional que traz o câncer na vida das mulheres merece maior atenção.
O câncer de mama é o mais comum entre todos os tumores e sua incidência deve aumentar nas próximas décadas, assim como sua mortalidade. O câncer de colo de útero mata 300 mil mulheres em todo o mundo a cada ano, 90% delas em países em desenvolvimento.
Dados das Nações Unidas indicam que mais de 4 milhões de mulheres morrem por câncer anualmente, deixando mais de 1 milhão de órfãos. O impacto é maior em países de baixos recursos, onde o diagnóstico precoce e o tratamento mais eficaz estão mal distribuídos ou não são acessíveis, particularmente em populações marginalizadas. Existe uma associação entre a morte de uma mãe e mortalidade infantil. A estimativa é que, para cada 100 mulheres que morrem por câncer em países africanos, de 14 a 30 crianças morrem como consequência.
Mulheres dedicam 2 a 10 vezes mais tempo em trabalho não remunerado do que homens e, reconhecidamente, têm um papel fundamental e pouco valorizado no funcionamento social. Sociedades que cuidam de suas mulheres são mais saudáveis e têm um futuro mais próspero e produtivo.
O aumento na incidência e na mortalidade por câncer não é inevitável. Obesidade, álcool e sedentarismo, entre outros fatores de risco, podem e devem ser alvo de estratégias preventivas. Temos de enfrentar o estigma e os mitos associados com a doença e que resultam em diagnósticos tardios.
De acordo com a OMS, detectar tumores de mama com menos de 2 centímetros aumenta as chances de cura e resulta numa diminuição progressiva da mortalidade. Devemos identificar iniquidades e corrigi-las, educar a sociedade e mudar nossa percepção com relação ao câncer na mulher e a profundidade de suas consequências, para todos. Mulheres mais cuidadas e com mais saúde representam um futuro melhor para todos nós.
Carlos Barrios é oncologista do Grupo Oncoclínicas, em Porto Alegre.
Do mesmo autor, leia outro texto AQUI