Por Matias Revello Vazquez e Taísa Festugato
Toda MAESA é cultura! Este é o foco do Plano Geral desenvolvido pelo escritório Vazquez Arquitetos para o conjunto da MAESA. Conforme afirma o professor, museólogo, arqueólogo e historiador do Departamento de História na Universidade de São Paulo, Ulpiano Bezerra de Meneses: o patrimônio, antes de tudo, é um fato social, já que uma edificação só se torna patrimônio devido a todo um sistema de valores e pessoas que a legitimam como tal, e o simples ato de usufrui-la é um ato cultural em si.
O conjunto é formado por 19 edifícios, sendo que todos contam alguma parte da história do conjunto. Pelos estudos, os que apresentam baixa significância histórica e grande estado de deterioração podem ser liberados para serem substituídos por novos equipamentos que têm a função de valorizar o conjunto existente, destacando a primazia daqueles de maior importância. Nada deve ser demolido ou construído sem uma função de interrelação e articulação com o conjunto.
As demandas de usos relacionadas pela comunidade e organizadas no Projeto Intervenção: Recuperação, Uso e Gestão da MAESA, de 2015, foram contemplados no desenvolvimento do Plano que organizou o programa. Três grupos principais que se mesclam no conjunto: Cultura, Economia e Administração.
Foram determinados espaços exclusivos para o uso cultural, como o Museu do Trabalho no prédio da antiga fundição, que tem a maior parte dos equipamentos tombados, mas também foram determinados edifícios para usos cotidianos, como Mercado Público e comércio em geral, fazendo com que a população possa utilizar o espaço no seu dia-a-dia e que o foco fique apenas no turismo. Essa mescla garante que o bem se mantenha vivo e integrado à comunidade.
Também foi determinado que os edifícios das esquinas sudeste e sudoeste devem ter uso 24 horas, para que aquela região, que é menos movimentada, possa garantir a segurança dos usuários durante dia e noite.
O projeto propõe integrar os edifícios à malha urbana, promovendo o acesso da comunidade para que o conjunto faça parte da cidade, reduzindo suas barreiras, promovendo a permeabilidade dos muros que antes atendiam à demanda da função industrial, totalmente isolada do restante da cidade.
Esse isolamento resultou em duas áreas bastante diversas em características urbanas ao norte e ao sul da indústria. Hoje se tem um Sul menos desenvolvido, com menor densidade urbana e ocupação esparsa, enquanto o Norte é uma das áreas mais valorizadas da cidade.
A revitalização do bem, em conjunto com uma Operação Urbana Consorciada que regre as construções no seu entorno viabilizando um crescimento harmônico, deve equalizar essa diferença, promovendo grande impacto no desenvolvimento urbano.
O Plano Geral foi contratado pelo Município de Caxias do Sul para determinar as diretrizes para a ocupação do conjunto em 2021, e sua integra pode ser acessada pelo link: https://caxias.rs.gov.br/servicos/planejamento/maesa
Cidadela MAESA – Conceito do Plano Geral
Passados quase 150 anos do início da imigração, a indústria de Abramo proporciona para a cidade de Caxias do Sul uma nova oportunidade de se destacar no cenário nacional como uma cidade preparada para o futuro, que sabe resgatar sua rica história para fomentar novas matrizes econômicas e atender às necessidades do século XXI, momento no qual as pessoas passam a ser prioridade e a tecnologia fomenta novas relações de trabalho e de vida.
Entendendo a importância desse legado para o futuro, levando em conta as características do conjunto organizado como uma pequena cidade, com ruas, praças e prédios e tendo em vista que a força de trabalho de milhares de caxienses fez com que o conjunto se expandisse e a cidade crescesse, propõe-se conceituar o novo espaço não mais como simplesmente MAESA, mas como CIDADELA* MAESA.
Uma antiga “fortaleza”, que promoveu o crescimento de Caxias do Sul. É considerada fortaleza por suas muralhas fechadas, próprias do trabalho fabril. Fortaleza por ter sido o suporte econômico de milhares de cidadãos caxienses. Fortaleza por ser um ponto estratégico para o futuro da cidade.
Um local para todos os cidadãos, no qual predomine a diversidade de usos e que seja acessível não apenas no aspecto físico, mas também no intelectual, social e econômico.
Uma pequena cidade com história própria, com ruas e praças, com edifícios distintos, de diferentes valores.
Todos estes valores foram estudados e estão representados no grupo de vozes que participam do documentário MAESA, que, de alguma forma, fizeram parte da história do edifício. Pode ser acessado pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=t23ewGwSdro
* Cidadela: quer dizer “fortaleza que defende uma cidade” e veio do Italiano cittadela, “pequena cidade”, de città, “cidade”, do Latim civitas, “cidade”.
Matias Revello Vazquez e Taísa Festugato são arquitetos e urbanistas, ambos à frente do Plano Geral de Ocupação da MAESA, assinado pelo escritório Vazquez Arquitetos, de Caxias do Sul, que também integra o consórcio liderado pela Radar PPP que participa dos estudos no âmbito de Parceria Público Privada (PPP) para modelagem e ocupação do patrimônio histórico.