Caxias do Sul 22/11/2024

O Estruturalismo entra em cena

Método que estuda o concretamente observável é ponto de análise no caderninho de anotações
Produzido por José Clemente Pozenato, 10/08/2023 às 14:27:32
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

Voltando ao II Simpósio de Língua e Literatura Portuguesa, realizado no Rio, em janeiro de 1968, outra conferência marcante registrada em meu caderno de anotações foi a de Luiz Costa Lima, sobre Estruturalismo e Crítica Literária. No final da palestra, que começou às 16 horas do dia 17 de janeiro, escrevi este elogio:

Costa Lima foi muito claro na exposição. É muito jovem, nasceu em 1937. Na tarde quentíssima, aguentamos 3 horas de “suadouro”.

Ele havia recém concluído um estágio na França, onde teve contato com o uso do estruturalismo, criado pelo suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913), no campo das ciências humanas. O primeiro a aplicar esse método foi Lévy-Strauss, nos seus estudos de Antropologia, pelos seguintes motivos (de acordo com as anotações!):

1. O método estruturalista pretende apreender a lógica do sensível, e não a da representação racional.

2. O homem é tomado como objeto de estudo observável em seus produtos, não em suas ideias.

3. Lança um repto à construção filosófica, que visa de cima as coisas, a partir de categorias racionais. O estruturalismo parte de baixo: não para investigar a natureza mas os conjuntos humanos, onde ele (homem) é mais detectável. Com isso, Lévy-Strauss, ao buscar uma lógica do sensível, se afasta do atomismo de Malinowski e da teoria evolucionista.

Da Antropologia, o estruturalismo migrou para a Crítica Literária. Na França, passaram a fazer crítica estruturalista nomes como Roland Barthes e Gérard Genette. Costa Lima se expandiu em descrever os métodos dessa Nova Crítica, com frases como esta:

Só um tipo de objeto é estrutura: aquele que, tendo uma rede interna, revela uma série de articulações observáveis, cujos limites não são atingíveis à primeira vista: são objetos problemáticos a serem problematizados.

Finda a explanação, o Professor Aloisio J. de Faria levantou o seguinte problema:

O estruturalismo lança um repto à filosofia por suas categorias racionais apriorísticas. Mas, olhando de perto, o estruturalismo não é também apriorístico, categorial, embora partindo do sensível? Dá a impressão de um kantismo sem sujeito transcendental.

Luiz Costa Lima sorriu, reconhecendo que o problema existe, mas que não sabe responder.

Em meu caderno, fiz este comentário: o estruturalismo, segundo depreendo, é antes de tudo um método de trabalho, que visa o estudo do concretamente observável, reptando inclusive o método filosófico, categorial. E escrevi esta pergunta, que não cheguei a formular ao jovem conferencista: - Poderia explicitar por que a obra de arte literária é objeto possível do método estruturalista?

Pergunta que tive ocasião de formular com todas as letras, dois ou três anos depois, no Mestrado em Letras da PUC-RS. Não me transformei num estruturalista radical, mas aprendi muito com o estruturalismo...

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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