Tarde de circo. O coraçãozinho batendo diferente, quase assoprado. Em uma das mãos, guardava o bilhete precioso, o ingresso mágico. Por entre o muro de pernas compridas, os olhinhos apertados buscando o início da fila, não sossegavam.
Ao seu lado, descobre outro encantamento: “Mãe, pai, compra um doce de algodão”?
Lambuzando-se, a fila avança, para a felicidade geral. Entrou pela boca da cabeça do palhaço gigante, com pressa, quase soltando as mãos, num misto de alegria e ansiedade. O braço é trazido de volta pelo pai, precisa entregar o papelzinho para o “tio”.
O cheiro da serragem misturado ao Ping-Pong elevou seu espírito alguns centímetros. Voou junto até a arquibancada, acomodou-se ainda sem muito sossego junto aos dois. Um mar de cabeças e casacos coloridos ondulava por todos os lados, as vozes parecendo barulho da caixa de brinquedos, o teto de pano alto, alto...
Percebeu que alguns não sentavam, ficavam andando pra lá e pra cá e tinham uma barriga enorme. Quando um aproximou-se o suficiente, percebeu que a “barriga” era uma caixa recheada de pacotinhos de pipocas.
“Mãe! – quase gritou – “Pipoca”!!!
A doce era sua preferida, dedinhos já em ação. As luzes vão diminuindo, uma música estrondosa e contagiante invade tudo muito de repente. Excitação na geral, gritinhos e exclamações, olhos voltados para a arena central, um raio de luz forte acende e mostra o dono do espetáculo, de casaco comprido com luzinhas piscantes, calças com balão nas pernas, um chapéu comprido amarrado num bigodão...
Silêncio geral. A música para e o homem coloca um chapéu de aluno burro na boca, mas do lado fino, e fala. As palavras explodem no ar:
- Senhoras e senhores…
A alegria contida agora se solta, já não ouve o que o homem diz, apenas o tum tum tum do coração. O espetáculo vai começar…
Em casa, à mesa do jantar e sem apetite, apenas ouve a conversa dos adultos. O pai comprou os ingressos. A mãe botou a roupinha nova. O pai foi dirigindo até o posto da gasolina. O algodão doce estava barato, mas a pipoca tava salgada (“Oi? Era doce!?!”).
Do refrigerante, não falaram. O ingresso era diferente, não era cartão, só papel. A tenda e tudo o mais, devia custar uma fortuna, não entendeu. As roupas especiais dos artistas. A dos trapezistas talvez nem tanto, era de ir pra praia.
Queriam achar a fábrica dos autinhos que os palhaços usavam e dar pro menino. Os leões deviam comer bastante. A jaula fora feita sob encomenda. A conta de luz era alta. De quem seria o terreno alugado? Será que o circo pagava impostos?
E assim, a vida segue com seus prazeres e seus valores. A arte cobra um tanto, mas paga muito também. E a economia da cultura segue girando… Bom espetáculo a todos!!!
Claudio Troian é produtor cultural
claudiotroiancaxias@gmail.com
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