No interior, antigamente, eles deixavam acumular uns três quatro filhos pra ir registrar tudo duma vez. Ficavam daí os filhos com o mesmo aniversário. Carneavam um galo só por ano, economizavam nas palmas do parabéns.
Aí tinha um lá que – sabe a história da Tracaliana? Que o homem chegou e o cara do cartório pediu: que nome vai ser? E o homem: sei lá, traca Liana!
Bueno.
Lá pra fora tinha o Hildo. Um dia a mãe dele engravidou de novo e o pai foi registrar.
– Qual o nome do teu filho? – diz o cara do cartório.
– Hildo – diz o homem, na inocência.
Mas não é que o cara do cartório registrou o recém-nascido como Hildo também?
Precisava ver a cara daquela mulher quando que o marido chegou em casa com a certidão.
– Hildo de novo? – diz ela – Mas o que que você tem na cabeça, Maquiné!
E ele, com aquela laje:
– Mas o cara pediu o nome do meu filho…
Daí ele foi de volta pro cartório, um dia inteiro a pé até a cidade.
– Você botou o nome errado – diz.
E o cara do cartório:
– Mas não era pra ser Hildo?
– Não – diz o homem – Esse aí eu já tinha.
– Bom – diz o cara do cartório – Agora você tem dois.
– Mas eu quero trocar o nome.
– Hildo não tá bom?
– Sim – diz o homem –. Mas só um, não dois.
Aí o cara do cartório se enfuriou:
– Olha, seu Maquiné, eu tenho mais o que fazer.
E ficaram nesse impasse. Cada um num canto olhando as moscas que passavam perto.
Quando era hora de fechar, o cara do cartório viu o Maquiné ainda sentado esperando. Diz ele:
– O senhor não me faça mais filho.
E espremeu bem espremido a caneta, fez tipo um N do lado do O na certidão: virou Hildon, o recém-nascido.
Só que na verdade a gente chamava de Hildão o Hildo, que era o mais velho. E o Hildon, o mais novo, todo mundo chamava ele de Hildinho. Mesmo que ele tivesse dois metros de altura, enquanto o Hildão bem dizer não passava de metro e meio.
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.
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