É preciso reconhecer que, diante da evolução tecnológica, os corredores do ambiente de trabalho se expandiram para o ciberespaço. E, nesse novo local, surgiram formas de assédio e discriminação que, muitas vezes, escapam aos olhos desavisados.
É exatamente por meio de palavras digitadas e as interações online que podemos chegar a consequências profundas, que afetam não apenas a saúde mental dos trabalhadores, mas também a igualdade e a justiça que todos merecem.
É preciso reconhecer que o assédio e a discriminação assumiram uma nova roupagem nas redes e plataformas digitais. Por trás das telas, a impessoalidade do espaço virtual, muitas vezes, esconde comportamentos prejudiciais. Comentários depreciativos, piadas ofensivas e discursos de ódio se escondem nas entrelinhas das conversas online, minando a autoestima e corroendo a dignidade dos trabalhadores.
Infelizmente, aqueles que enfrentam o assédio digital, muitas vezes, sofrem em silêncio. A saúde mental é afetada de maneira profunda e invisível, à medida em que as palavras cruéis se infiltram nas mentes dos trabalhadores e geram ansiedade, depressão e estresse.
Reconheçamos que a legislação está evoluindo para acompanhar essa nova realidade. À proporção que os comportamentos prejudiciais se deslocam para o ambiente virtual, as leis estão sendo revisadas para abranger ações online que afetam o local de trabalho. A luta pela igualdade e pela justiça não conhece fronteiras físicas ou virtuais, e a defesa dos direitos dos trabalhadores estende-se agora para o ciberespaço.
A cultura de respeito e inclusão deve respingar no ambiente de trabalho digital. A educação é fundamental. Os trabalhadores devem ser orientados para que reconheçam e denunciem comportamentos prejudiciais ao seu bem-estar, independentemente do meio em que ocorram.
Os empregadores têm a responsabilidade de criar locais online seguros, onde o respeito seja a norma e, principalmente, que todos os trabalhadores possam prosperar sem medo de discriminação ou assédio.
A tecnologia continua a redefinir nossa relação com o trabalho e, consequentemente, torna-se necessário que a sociedade venha a redefinir a abordagem para afrontar os desafios que emergem das profundezas do pseudoanonimato.
Combater o assédio e a discriminação no ambiente de trabalho digital é uma tarefa coletiva, um compromisso comum. Criar um espaço online onde a diversidade seja celebrada e a dignidade de cada indivíduo seja respeitada é responsabilidade de todos.
Somente quando enfrentamos as sombras virtuais sem receio e com o máximo de empenho é que podemos verdadeiramente caminhar para um ambiente de trabalho virtual mais justo, saudável e inclusivo.
Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada, com pós-graduação em Direito Previdenciário, Direito do Trabalho e Direito Digital. Presta consultoria para empresas no ramo do direito do trabalho e direito digital. É coordenadora do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em MBA em Gestão de Previdência Privada – Fundos de Pensão, do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG.
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