Caxias do Sul 21/11/2024

Ninei meus medos

Sei que eles ainda virão, em formatos e intensidades diferentes
Produzido por Neusa Picolli Fante, 12/06/2024 às 08:29:41
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas
Foto: Morgane Coloda

O de dentro e o de fora se misturaram... Somatizei o que não falei, o que não entendi, o que não me senti compreendida, o que não me dei conta do difícil que vivi, o que não curei, talvez...

Tornei meu algo que não era. Algo antigo, que quando aconteceu precisei segurar a vida de todas as maneiras possíveis. E... segurei! Agora voltou com a força de ter de olhar para isso novamente. Revisitar, re-olhar quantas vezes for preciso para poder colocar no devido lugar, no fragmento que lhe cabe. Aquele que sinto adequado, naquele em que minha intuição diz pra colocar...

E confirmo que, naquele momento, eu nem estava triste! Então por que veio com tanta força essa pendência?

Porque representava a lacuna, aquela que está ali me desviando de mim. Aquela que me relembrou de que sozinha não dei conta. Aquela para a qual precisei procurar ajuda para amenizar. Aquela que está ligada às minhas inseguranças, amarrada aos sentimentos de menos valia que carrego e, principalmente, fusionada a tudo que mais me angustia e que, muitas vezes, não consigo compreender.

Penso nisso, e lembro que vínculo seguro sabe pedir ajuda, e isso já me alivia! Lembro que tive e tenho ajuda de pessoas pelas quais sinto um carinho enorme – pessoas de valor que passaram e que ainda passam por mim. Acima de tudo, porque fui ao encontro desse me reintegrar. Mas, principalmente, porque soube pedir ajuda, e isso me faz sorrir por dentro. Um ponto a favor para o meu eu interno!

Mas por que eu ainda somatizo? Talvez pelo medo que eu já senti. Pode estar amarrado esse acúmulo, a não compreensão sobre mim mesma. Absorvo sombras, mal resolvidas e seguro-as em mim me boicotando, me punindo até (inconscientemente).

Talvez porque tenha de exercitar mais minha fé. Tenho consciência de que nesse item específico me perco de mim de vez em quando. Mas hoje sei como retornar, e a duração desse se perder já não é tão grande quanto era...

Ufa! Então estou no caminho, conheço meus passos. Reconheço os degraus que necessito galgar. E o parar para refletir fez parte e ainda faz desse, às vezes, difícil seguir, desses momentos de aprendizado. Mas são eles que me impulsionam nesse andar...

Nesses momentos, decidi pegar meus medos no colo. E niná-los até poder respirar... porque sei que eles ainda virão, em formatos e intensidades diferentes. Afinal, não ando pela vida somente a passeio...

E, cada vez mais, necessito ampliar o meu olhar...

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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