Numa de minhas idas a Paris – uma cidade cativante como nenhuma outra – andando pela Avenue des Champs Élysées, parei na frente da Maison Cartier, uma joalheria quase tão famosa como a cidade que a abriga. Para minha surpresa, no edifício ao lado havia uma placa na entrada informando que ali havia residido Alberto Santos Dumont, “Le Père de l’Aviation”.
Deu para ver, bem claro, que Santos Dumont havia deixado uma marca indelével na França. E o fato de ele ter morado num apartamento ao lado da joalheria Cartier me fez vir à tona o episódio da invenção do relógio de pulso: foi ideia de Santos Dumont ou do joalheiro Cartier? Ou dos dois?
Algum tempo depois, me surgiu outra marca indelével: Alcy Cheuiche, gaúcho de Pelotas, publicou, em 1998, Nos Céus de Paris – O romance da vida de Santos Dumont. Cheuiche tinha já uma trajetória fecunda como romancista, centrado em episódios marcantes da história gaúcha, a começar por Sepé Tiaraju – Romance dos Sete Povos das Missões. Outros romances magistrais de sua autoria, tanto na reconstituição histórica do ambiente como na força literária são O Mestiço de São Borja e, com ele, A Guerra dos Farrapos.
A afeição de Cheuiche pela França e por Paris começou ainda na juventude. Depois de concluir a Faculdade de Veterinária na Ufrgs, se diplomando com o primeiro lugar da turma, foi fazer pós-graduação na França. E chegou a dar aulas em Paris, também numa escola de veterinária. Nessa convivência com a cidade, percebeu a força da imagem de Santos Dumont e decidiu escrever um romance histórico com sua trajetória de caipira de São Paulo a Pai da Aviação. Com esse objetivo, voltou a Paris, já nos anos noventa, para realizar pesquisas de ambientação para o romance Nos Céus de Paris, também magistral em sua montagem cênica.
Agora me chega às mãos outro livro tendo Paris como cenário, não mais nos céus, com o no romance de Cheuiche, e sim nas ruas. Seu título completo é: A história do Brasil nas ruas de Paris, publicado em 2014 pela Casa da Palavra, no Rio de Janeiro. O autor é Maurício Torres Assumpção, um jornalista carioca que foi também residir em Paris.
O objetivo da obra é mostrar as marcas deixadas por brasileiros na cidade de Paris. Pela ordem, os mais famosos são: Dom Pedro I, Dom Pedro II, Princesa Isabel, Alberto Santos Dumont, Lúcio Costa, Villa-Lobos, Pixinguinha, Oscar Niemeyer.
Na contracapa, o autor revela de onde lhe surgiu a ideia para escrever o livro. Por coincidência – ou por convergência de pensamento? –, foi ao ver a mesma placa que me impressionou ao lado da joalheria Cartier. Eis o que ele escreve:
“Nas primeiras horas da manhã de 23 de junho de 1903, Alberto Santos Dumont sobrevoou a Avenue des Champs-Élysées, em Paris, com seu pequeno balão dirigível. Passando pelo edifício onde morava, aterrissou na avenida, saltou do aparelho e subiu ao seu apartamento para tomar um café. Essa escala para um cafezinho entrou na crônica da cidade, com direito a placa comemorativa na porta do edifício. Da placa, surgiu a ideia deste livro, e, com ele, emergiriam outras placas, monumentos e ruas que marcam a história dos brasileiros que fizeram diferença na França.”
É por isso, também, que as ruas e os céus de Paris continuam nos encantando!
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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