No capítulo anterior, deixamos o Nanico dormindo enquanto estudava italiano. Agora o avião estava chegando ao destino.
O Nanico aprendeu tão bem o italiano que incorporou inclusive o latim. Acordou declamando Virgílio:
Litoreis ingens inventa sub ilicibus sus
triginta capitum fetus enixa iacebit,
alba, solo recubans, albi circum ubera nati:
hic locus urbis erit, requies ea certa laborum…
– Ou seja – traduziu a comissária de bordo, entrando na biblioteca:
Verás uma grande porca branca
sob os carvalhos na beira do rio,
com trinta porquinhos branquinhos mamando:
ali é o lugar onde descansarás…
A profe não teve tempo de criticar a tradução, já que a comissária veio avisar “o casalzinho” de que estavam chegando em Milão.
– Casalzinho? – retrucou a Leona – A gente só se deu uns amassos linguísticos.
E o Nanico a acompanhou na negação:
– Olha bem se eu vim pra Itália namorar uma brasileira!
– Ítalo-brasileira – a Leona corrigiu –. Graças ao escritório Chiassi & Fracassi.
– Que coincidência – disse o Nanico –. Eu também obtive a cidadania italiana graças ao escritório Chiassi & Fracassi.
– Você sabia, Nanico, que o escritório Chiassi & Fracassi tem cinquenta anos de experiência?
– Oh, sim, Leona. E você sabia que ele foi eleito sete vezes o melhor escritório das Grotas?
Pena que o escritório Chiassi & Fracassi só patrocinou este folhetim a partir do terceiro capítulo. Se tivessem aparecido antes, eu podia ter passado o contato deles para o desconhecido em troca da carona que ele deu pro Nanico, lá no começo da história.
Agora somos obrigados a ver o Nanico cumprir a promessa de ir até Pedavena procurar os documentos daquele cara.
Mas pelo menos o escritório Chiassi & Fracassi convenceu a Leona a acompanhar o Nanico até o Vêneto. Parece que prometeram depois um trampo de babá pra ela em Milão.
– Ué! – disse o Nanico –Tu não é professora?
– Quieto! – ela cutucou – Se eles ficam sabendo que eu fiz faculdade, não me dão trabalho.
Decidiram ir de trem pra Pedavena. No aeroporto mesmo tinha uma estação: ah, o sistema de transportes do País da Cocanha.
A Leona foi ao banheiro enquanto o Nanico foi comprar as passagens. Ou pelo menos era esse o combinado…
(Continua...)
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.
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