Caxias do Sul 08/09/2024

Nanico PAPPETTA (Parte V)

Segue a saga suga de Nanico, de sobrenome Pipetta, apelidado Pappetta em solo itálico por insólito motivo
Produzido por Paulo Damin, 08/03/2024 às 07:25:05
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul
Foto: ARQUIVO PESSOAL

No capítulo anterior, o Nanico e a Leona foram expulsos do trem e encontraram a porca. Agora estavam com ela na estação fantasma.

O Nanico narrou o sonho premonitório que ele teve no avião:

– Onde eu encontrasse uma porca branca, eu ia descansar. Aqui só faltam os trinta porquinhos pra completar a ceia; aliás, a cena.

– Nasci porca – disse a suína –, mas me identifico como javali. E não sou branca: sou rosa. Teu sonho é um poema do Virgílio sobre minha ancestralidade. Teria sido uma homenagem, se na continuação da história minha tata não fosse sacrificada.

– Tadinha – disse a Leona –. Mas fica tranquila, eu sou vegan.

Aí foi a vez da Javali abraçar a Leona como uma velha amiga.

laugh

Elas fizeram uma quirera de janta. O Nanico (cara fechada como o céu lombardo) bem capaz que ele ia comer aquilo. A suína cantou uma nana:

Nananê Nanicó,

que paciência de Jó

tem que ter com as criancinhas

que só querem carninha.

Pro Nanico Pipetta

vamos dar a pappetta…

– Nanico Pappetta! – ficaram chamando ele.

Até que ele juntou do chão uma veneziana.

– Calma, Nanico!

– Calma um repolho! – ele fez – Se tem uma coisa que me irrita é correnteza de ar.

E tentou colocar a velha veneziana num buraco que tinha na parede.

– Ai! – disse a madeira – Devagar, seu imigrante!

O Nanico tentou ainda, mas foi inútil. A parede não segurava mais nem a si mesma, imagina ter de segurar uma veneziana desengonçada e reclamona.

Ela xingava o Nanico e, ao mesmo tempo, exigia que ele a carregasse de volta pra casa dela.

– Imigrante! Já que tu me juntou do chão, me leva pro Vêneto!

A Leona e a Javali sentiram pena do Nanico.

– Deixa ela aí – disse a profe –. Vem com a gente.

Assim a Leona rompeu com o escritório Chiassi & Fracassi, sem se preocupar com as consequências que isso geraria pro Nanico. Agora o plano dela era ir com a Javali para uma fazenda feliz, onde os animais eram cooperativados e dividiam o lucro da venda do leite, dos ovos, das penas...

– É a verdadeira Terra da Cocanha – disse a suína.

Mas o Nanico não se convencia. Cocanha sem carne?

– Nessa hora, de onde eu venho, tá todo mundo fazendo o aperitivo – comentou a Veneziana.

Aperitivo… Nas Grotas do Nanico, isso tinha cheiro, som e sabor de graxa pingando na brasa.

Com a Veneziana nas costas, lá foi ele se babando na direção do Vêneto.

(Continua...)

Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.

Do mesmo autor, leia outro texto AQUI