Caxias do Sul 23/11/2024

Nanico no Vêneto (Parte VI)

Nosso migratório herói segue sua suma saga agora já no cartório em Pedavena
Produzido por Paulo Damin, 15/03/2024 às 07:25:04
Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul
Foto: ARQUIVO PESSOAL

No capítulo anterior, o Nanico foi com a Veneziana pro Vêneto. Agora ele estava com ela numa bodega, aprendendo que “aperitivo”, naquelas paragens, significava se entortar tomando spritz.

Vendo que a Veneziana era uma tchuquera, o Nanico jogou água nela, pra ela não ficar com dor de cabeça depois. Aí ela voltou a xingar ele de imigrante, o que fez os demais convivas olharem arianamente pro Nanico.

– O que tu veio fazer aqui? – diziam – Quer roubar meu trabalho?

Não esperavam o Nanico responder. Suspeitando que eram um bando de tchuco, o Nanico jogou água neles pra não ficarem com dor de cabeça no dia seguinte…

laugh

Correndo dos nativos, o Nanico chegou em Pedavena. Foi no cartório, mandaram ele pra prefeitura. Enquanto esperava ser atendido, calculou que ainda não tinha visto o sol dourado nem o céu azul do País da Cocanha.

Lhe vieram uns versos de Rosalia Calleri:

Sobre a terra o céu

se abaixa com a neblina

e a envolve em denso véu.

Como sombras são as coisas,

como sombras as pessoas

que passam apressadas.

Cada cara mal-humorada

mesmo sem palavras diz:

“Ah, se eu revisse o sol

como eu seria feliz!”

Falou o cara que veio “dos trópicos” – um funcionário ironizou – Mas tu sabia que nas Grotas faz menos sol do que em Pedavena?

Como tu sabe de onde eu venho? – perguntou o Nanico.

– Todo dia aparece um de vocês querendo certidão antiga.

Aí o Nanico pediu os documentos do amigo lá que tinha dado carona pra ele no começo da história.

Qual é o sobrenome? – perguntou o funcionário.

Bã… – fez o Nanico.

E ficou tentando descrever fisicamente o fulano, mas pro cara da prefeitura não adiantava.

– Tu pegou carona de noite com um desconhecido, mas não fez a única pergunta que importa pra vocês “descendentes de italianos”?

Agora o Nanico, além de fome, sentia humilhação. O funcionário ia sentir pena, mas pensou que aquela era uma boa oportunidade pra desfazer a imagem que as pessoas têm dos vênetos. E decretou:

– Por uma semana, Pedavena vai dar cidadania italiana pra qualquer pessoa que pedir. Avisa teu amigo.

Tá avisado – disse o Nanico – Estão publicando essa história no portal Silvana Toazza, com certeza ele vai ler.

O que o Nanico não previu é que também os advogados do escritório Chiassi & Fracassi estavam lendo isso…

(Continua...)

Paulo Damin é escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul.

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