Mobilidade inteligente e sensata. Este termo nunca foi tão atual, amplo e preciso. Ficar em casa, distanciamento social. Estamos utilizando o nosso livre arbítrio para ficar imóveis e trânsito e deslocamento só para o essencial. Mas até quando essa imobilidade será ideal? Ninguém sabe. E quais os riscos e malefícios?
Estamos tendo a oportunidade e tempo para reflexão e análise.
A saúde, o bem-estar e a segurança das pessoas são a prioridade. Quase todos estão em suas residências, socialmente isolados. Mas qual é a dose correta desse remédio? E quantos serão os óbitos? Em número de vidas e na economia.
Como cuidar dos doentes se remédios e equipamentos demoram para chegar por falta ou restrições de mobilidade? Idem para diversos produtos de múltiplos segmentos.
Qual a dimensão dos efeitos para a sociedade dessa paralisação e isolamento social e qual o tempo necessário para a recuperação?
Talvez o ideal fosse que não precisássemos ir e vir tanto ou que a fluidez do trânsito fosse como nesses dias de pandemia.
Talvez o ideal fosse que todos pudessem trabalhar e ganhar o seu sustento de casa. Talvez o ideal fosse que a economia girasse perfeitamente neste cenário. Infelizmente não é. Nenhuma das anteriores.
E aí está a reflexão e análise.
O isolamento social é uma condição temporária, mas os estragos na economia e na vida de cada brasileiro podem ser definitivos. De um lado precisamos zelar pela vida das pessoas, mas por outro, precisaremos ter condições mínimas para garantir a sobrevivência para todos antes mesmo do controle da pandemia, pois essa guerra pode durar meses.
É como a situação dos médicos e enfermeiros dos Estados Unidos e Europa que estão atendendo sem os necessários equipamentos de segurança. Quinze por cento já estão doentes e aumentaram o contingente de pacientes, ampliando o déficit de leitos e de profissionais para atender.
Saúde e economia não estão dissociadas, caminham juntas e são vitais para a população. Tanto que os países mais ricos decidiram injetar imediatamente US$ 5 trilhões para conter os impactos na economia global. Então, qual o prazo máximo para mantermos a economia imóvel? E qual o custo dessa imobilidade?
Na China, que já está retomando as atividades, de forma escalonada e com incentivos ao consumo, todos os setores foram afetados, com diversas empresas fechando e demitindo funcionários. A queda nas vendas no varejo foi de 20% e na venda de veículos, 92% apenas na primeira quinzena de fevereiro. O governo está estimulando o consumo interno com a devolução parcial de impostos pagos e descontos diversos, mas todos estão preocupados com o futuro próximo.
Agora estamos ilhados, parados na frente da TV ou conectados nas redes sociais e hipnotizados pelo coronavírus. Mas e depois? Como encontrar um jeito de ter e dar mobilidade à sociedade, à economia e à vida do País, preservando a saúde, mas não destruindo a vida de cada um e de todos.
A imobilidade é fatal. Fatal para o convívio. Letal para o psíquico e mortal para a evolução e o desenvolvimento. E essa imobilidade poderá ter importantes efeitos negativos imediatamente, com desemprego e recessão. No Brasil, a retração de faturamento chega a 83% na área de turismo e aviação e mais de 50% nos demais. Somente supermercados e farmácias registraram crescimento nas vendas nesta segunda quinzena de março.
Como estamos tentando fazer com a curva de contágio e de mortes, precisamos também nos preocupar em achatar a curva da recessão econômica que poderá vir muito forte no futuro próximo.
Quando este isolamento social passar, quem sabe possamos sair das nossas casas com os nossos valores repensados e aplicar esse mesmo senso de coletividade que estamos agora adotando para a saúde, na recuperação da economia, dos empregos e também na cultura, educação e transporte, entre muitos outros aspectos vitais para a sociedade.
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https://soundcloud.com/user-645576547/mobilidade-e-o-bem-comum-em-tempos-de-isolamento-social
José Carlos Secco é jornalista especializado na indústria automotiva e de transportes, diretor da Secco Consultoria de Comunicação, de São Paulo, com atuação inclusive na Serra Gaúcha.
E-mail: jcsecco@secco.com.br
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