A vida nos coloca em situações difíceis, sem o nosso aval. De uma hora para outra, o jogo de cintura que tanto desejamos some... A palavra foge, a coerência também. A irritação toma conta, o engasgo vem querendo dizer algo, ou colocar tudo a perder. E aí, o que fazer? Juntar os caquinhos e cair fora o mais breve possível ou baixar a cabeça e ficar ali ouvindo? Ou, ainda, sair dizendo um monte de palavras aleatórias, que não levam a nada, só a mais distanciamento?
Comunicação é a palavra de ordem. E, assim, se torna essencial criar recursos internos, para não se deixar abater.
Sim, temos medo de entrar em certos desafios. Pequenos, grandes – só quem vive pode identificar. Aquela conversa, que não é bem uma conversa, é imposição – acontece! O círculo a que me sinto pertencido, ou o contrário, despertencido, está ali próximo de mim. Aquele olhar que desqualifica, a palavra que machuca – tudo isso está presente. Pessoas que nos fazem nos perder de nós mesmos fazem parte do nosso dia a dia. Nos fazem? Não. Nós é que damos o poder para o outro, que, como dono do universo, segue, e aos desavisados convence...
Esses dias, fui sobressaltada por uma amiga aterrorizada, por ter de viver uma experiência difícil. Se via num lugar que não tinha como rejeitar, precisava ir ao encontro, mas de antemão sabia que iria sofrer, e isso já a massacrava...
Não se contaminar pelo ambiente e dar a mão para o medo que sentia foi no que necessitou investir...
Primeiro, tenha claro o que você tolera e o que não tolera, e aprenda a se proteger. Como se faz isso?
O principal inimigo está ali - dentro de você. Aquele que foi plantado pela sua incapacidade e pelos próximos de referência para você, as limitações que lhe foram repassadas em lidar com sentimentos e acontecimentos desarmoniosos do dia a dia. Pela insegurança que ficou ali inalterada, aquela que você nem mexeu de tanto medo que sentia, e assim ela ficou...
Se reconheça nesse lugar, e no que está difícil. E não se esconda disso. Pense nas possibilidades, e nas dificuldades, e avalie, a partir disso, o que de mais difícil pode acontecer? Vá elaborando a flexibilidade dessa situação. Observe o seu valor, seus pontos fortes e se sinta apto para dar conta desse momento. Você é o mesmo... resgate sua força e sua inteireza e leve isso tudo consigo.
A humildade e a autoestima necessitam de mãos dadas ficar. Para restabelecer a ordem interna.
Ser humilde para aprender e saber que não é preciso entender de tudo. Também desenvolver a força da coerência dentro de si, para buscar ajuda, e não colocar tudo a perder.
Termino deixando um questionamento: o impacto das atitudes do outro na sua vida, a simples presença dele pode gerar tanto desamparo assim?
Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.
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