Caxias do Sul 25/11/2024

Limite tem algo que dá contorno

Dar limites para as invasões do outro que entram na minha vida é, acima de tudo, amor por mim mesma
Produzido por Neusa Picolli Fante, 17/07/2023 às 13:57:59
Foto: Morgane Coloda

Sim, o limite estrutura, determina espaço, revela novos caminhos. Dá rumo, orientação e sentido para a vida – a sua e a do outro também.

É o que protege, que dá direção. É a mãe que acolhe, mas também que ensina o não. É a mão que é dada no momento difícil, mas não permanece ali para sempre – criando dependência... E sim ajuda a atravessar uma ponte, a construir asas, e deixa partir. É a acolhida que empurra para a vida, para as verdades, para olhar firme e tranquilamente para tudo que se construiu em si e seguir adiante.

Dar limite para mim mesma é o mais desafiador: o pensamento voa, as angústias tomam conta, a voz do outro invade – seja esse outro parte do presente ou do passado. Às vezes, imagens de algo que foi vivido ficam indo e voltando até que eu consiga lançar sobre elas um novo entendimento, uma luz maior. Esse é o contorno de proteção comigo mesma... É o que dá limite para o desamparo que pode vir através das coisas difíceis que vivi...

O limite exige estar no princípio da realidade, olhando e organizando o que viveu – colocando cada coisa na sua caixinha...

Por vezes, me atormento nesse dar ou não dar limites. Fico presa no me valorizar ou no me desvalorizar, e questiono por que não tenho valor para o outro e se absorvo esse desvalor. Como consigo me colocar, me conectar comigo mesma, é constantemente aprendido. Inclusive, como eu me posiciono frente ao outro, nesse lugar de menos valia em que ele me coloca e que ocupo sem questionar e, assim, sigo em constantes aprendizados.

Por vezes, o limite sai de mim com raiva – numa ideia distorcida, ou recentemente aprendida... Ele deve ser protetor, não causar desamparo. Nesse momento, parto para um novo reinício de como dar limites.

Sei, no entanto, que posso me puxar para perto de mim e me olhar num mundo mais real, para que eu consiga demarcar a distância entre mim e o outro.

E avalio em que setor da minha vida preciso me dar limites... Absorver o que não é meu agora, compreendo o que não posso e o que não desejo mais... Isso me leva a novas construções, novos entendimentos, novos desafios.

Dar limites para as invasões do outro que entram na minha vida, no meu interior, é exercício, é entendimento, é reflexão. Acima de tudo, é amor por mim mesma. E entendo que não auxilio nem a mim, nem ao outro quando trago as dificuldades dele para mim. Antes necessito eu me salvar para poder ajudar o outro. Caso contrário, nós dois nos afogaremos.

Então eu em primeiro lugar...

Neusa Picolli Fante é psicóloga clínica especialista em lutos e perdas. É palestrante e escritora, autora de oito livros: três de psicologia, três de crônicas e dois de poesia.

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