Durante a comemoração do Centenário da Imigração Italiana (em 1975), foi publicado um livro com o título Italiani in Rio Grande. Não só o título, mas todo o texto foi publicado em língua italiana, com o patrocínio do IVRAL – Istituto Veneto per i Rapporti com l’America Latina, com o objetivo de ser distribuído entre os estudantes da Itália, para que não esqueçam o precioso patrimônio da história, como expresso na Apresentação.
Quem se encarregou da organização da obra foi o então Reitor da UCS, Abrelino Vicente Vazatta. Participou do trabalho o professor Mario Gardelin, então Delegado do Instituto no Rio Grande do Sul, studioso infaticabile, como refere a Apresentação. Coube a ele localizar os documentos que fizeram parte da iniciativa da região Vêneta. E não escondeu em que fonte os foi buscar: numa publicação comemorativa do Cinquentenário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Lembrar essas memórias no sesquicentenário, que está para acontecer, cria uma cadeia entre essas três datas memoráveis.
Foi dessa publicação, feita pela Editora Globo, de Porto Alegre, em 1925, que Mario Gardelin retirou os trabalhos para a iniciativa do IVRAL. Eis a relação deles:
1. Gli Italiani e la Repubblica di Piratiny: texto do escritor Mansueto Bernardi, natural de Veranópolis, que na época já trabalhava na Editora Globo em Porto Alegre. Neste ensaio, ele relaciona toda a participação de italianos na criação da República de Piratini, objetivo da Revolução Farroupilha. São elencados os seguintes personagens: Livio Zambeccari, um bolonhês geógrafo e naturalista, que desenhou a bandeira dos farrapos; Luigi Rossetti, marinheiro genovês, Giuseppe Mazzini, mais tarde um dos condutores da unificação italiana, com Giuseppe Garibaldi; e ainda Francesco Anzani, ao lado de outros nomes menos lembrados.
2. La vita spirituale nelle Colonia Italiane dello Stato, da autoria do Cônego Giuseppe Barea, que seria em 1934 designado bispo de Caxias, o Dom José Barea. Nesse texto, o Cônego Barea faz talvez a primeira análise cultural da imigração italiana, ressaltando o papel da família, da fé e do trabalho. Faz também uma análise histórica das “primeiras lutas do colono”, da construção de igrejas, capelas e capiteis pela região e dos nomes de membros do clero em sua atuação pelas colônias, chegando a Marau e a Erechim.
3. Sacerdoti Italiani che precedettero l’emigrazione: escrito por Don Cleto Benvegnù (1887-1944), que foi pároco em Porto Alegre e criador de escolas. Faz um elenco de todos os quase sessenta sacerdotes italianos que atuaram no Rio Grande do Sul, espalhados por todos os municípios,nos cinquenta anos antes da imigração iniciada em 1875.
4. Il colono italiano ed il suo contributo nello sviluppo dell´industria rio-grandense: um trabalho magistral de Celeste Gobbato, figura marcante na história de Caxias. Assim ele relata a “evolução industrial da colônia”: a) indústria extrativa; b) indústria rural; c) indústria manufatureira; d) indústria comercial. Um texto que continua uma referência obrigatória para a indústria da região.
5. L’opera della donna italiana, assinado por B. Crocetta (nome não localizado), que ressalta o papel da mulher em diversos ramos, da educação à assistência social, culminando com a criação do Hospital Nossa Senhora de Pompéia, “cuja constituição remonta a 12 de agosto de 1913”.
Como remate, o livro reproduz cópia visual de uma carta escrita por Paolo Rossato a seu pai, com data de 27 de julho de 1984.
Preciosidades que devem ser postas ao alcance das novas gerações.
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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