Caxias do Sul 21/11/2024

Imigração alemã no RS é bicentenária

Vinda dos colonizadores germânicos ao Estado completa 200 anos neste 2024
Produzido por José Clemente Pozenato, 28/03/2024 às 09:40:43
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”
Foto: Marcos Fernando Kirst

Embora o Governo do Estado tenha decretado que o ano de 2024 é o ano do BICENTENÁRIO DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ, não se tem percebido muita repercussão do evento. Foi diferente no ano da comemoração dos 150 anos da imigração alemã, no ano anterior ao do Centenário da Imigração Italiana. Na ocasião, os dois eventos foram conjugados numa série de projetos culturais que ficaram marcados na memória.

Uma das iniciativas então tomadas para marcar a presença da cultura de origem germânica no Estado foi a criação, em 1994, da Rota Romântica. Ela deu formato a um roteiro turístico englobando 13 municípios com etnicidade de origem alemã. Para quem não se lembra, são eles: São Leopoldo, (onde se instalaram os primeiros imigrantes alemães), Novo Hamburgo, Estância Velha, Ivoti, Presidente Lucena, Dois Irmãos, Morro Reuter, Santa Maria do Herval, Picada Café, Nova Petrópolis, Gramado, Canela e São Francisco de Paula. Sim, também São Francisco de Paula, onde há um distrito com o nome de Rincão dos Kroeff, lugar em que passei minha infância e adolescência. Já lembrei aqui que havia uma banda de música, formada por alemães procedentes de Taquara e de Nova Petrópolis, sob a batuta de José Ternus, para quem meu pai fez um violino.

A ideia da Rota Romântica gaúcha teve como matriz a região da Rota Romântica da Alemanha – a Romantische Strasse – que se estende entre as cidades de Würzburg e Füssen, na Baviera. Lá são 28 cidades ao longo de quase 400 quilômetros. Como na Alemanha, os objetivos do projeto – lá criado para recuperar a região da Baviera depois dos destroços da Segunda Guerra Mundial – foram os de incrementar o turismo e a importância da identidade cultural e da autoestima das comunidades da região: “para que seus hábitos, usos e costumes caracterizem o eixo comum que entrelaça os municípios participantes: a origem germânica”, como define ao pé da letra o Projeto da Rota Romântica gaúcha.

O ponto alto da celebração deste bicentenário em curso é o dia 25 de julho. Não por acaso foi ele escolhido para ser o Dia do Colono. A definição dessa data para homenagear o agricultor ocorreu em 1924, ano do primeiro centenário da vinda de imigrantes alemães para o Rio Grande do Sul.

Também em Caxias do Sul os imigrantes alemães e seus descendentes deixaram suas marcas. Basta lembrar que Abramo Eberle teve como sócio numa ourivesaria, fabricante de joias em prata, ouro e platina, um cidadão chamado Reinaldo Kochenborger. E que as famílias alemãs instalaram o primeiro curtume à beira do Arroio do Tega. Não por acaso, também a primeira cervejaria. Isso sem esquecer que o início do cultivo de videiras nas colônias italianas foi com cepas de uvas vindas das colônias alemãs.

Na Festa da Uva que tive a honra de ajudar a construir como Secretário da Cultura, em 2006, com o tema A Alegria de Estarmos Juntos, cantado com a música inesquecível de Mário Michelon, tive o cuidado de inserir a participação dos alemães na construção da história de Caxias do Sul.

Seu bicentenário é, por muitas razões, uma data a ser celebrada não só no Vale dos Sinos e às margens dos rios Caí e Taquari, mas em toda a Serra Gaúcha. Para ser justo, em todo o Rio Grande do Sul. Para ser ainda mais justo, em todo o Brasil!

José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

mail pozenato@terra.com.br

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