A frase célebre “Penso, logo existo”, do filósofo francês René Descartes, mostra o quanto é vital para o ser humano o “pensar”. Mas será que pensamos em nossas emoções e sentimentos o quanto deveríamos? Será mesmo que as emoções e sentimentos são fatores essenciais para o sucesso pessoal e profissional? Há diferença entre emoções e sentimentos?
Sentimentos, emoções e afetividade no mundo empresarial, nos espaços de trabalho, são temas que devem ser mais investigados e debatidos no meio corporativo. Qualquer pessoa necessita saber lidar melhor e sadiamente consigo mesmo e com o próximo, sejam colegas na empresa, na loja, no comércio, entre eles, colaboradores, chefia e empresários.
Conhecer como se produzem e manifestam sentimentos, emoções e afetividade deveria ser uma primícia do contratante. Sobre as perspectivas do desenvolvimento humano, seus ciclos de vidas e elementos da saúde e bem-estar do colaborador, será que pensar e cuidar das emoções não aumentaria a lucratividade das empresas e deixaria as pessoas mais felizes e produtivas?
Convido você a refletir sobre um organograma natural dos processos mentais, proposta do autor José Antonio Mariana, em sua obra El labirinto sentimental, que diz: “Os sentimentos modificam o pensamento, a ação e o entorno; a ação modifica o pensamento, os sentimentos e o entorno; o entorno influi nos pensamentos, nos sentimentos e na ação; os pensamentos influem no sentimento, na ação e no entorno”.
A mente humana é fascinante: nela reside uma teia que tece nossos pensamentos, crenças, julgamentos, sentimentos, valores, imaginação, ações etc, traçando linhas infinitas de pensares, onde tudo influi. É muito difícil e complexo conhecer todos esses caminhos mentais, ainda mais se tratando e tendo a pretensão de buscar a compreensão das dimensões emocionais e afetivas do ser.
Os nossos pensamentos nos ajudam a refletir e nos conduzem à forma como reagimos diante de conflitos e imprevistos que a vida nos apresenta diariamente. O grande problema é quando esses pensamentos se tornam limitantes às nossas ações, à proatividade, à iniciativa, à produtividade, se refletindo na lucratividade de qualquer empresa.
A capacidade de regular, controlar as emoções, é necessária a fim de persistir num determinado objetivo. Controlar a emoção concorrente é necessário para evitar que ela o leve a comportamentos que serão agradáveis em curto prazo, mas danosos em longo prazo.
Você contrataria uma pessoa extremamente narcisista que não tem empatia e é profundamente individualista para o convívio da empresa? Questionando essa pessoa em seus objetivos e metas de vida ela não te traz absolutamente nada concretamente e ainda reitera que a preocupação maior é a manicure da terça, o happy hour da quarta, a festa da quinta e onde flertar na noite de sexta. Bom, se você é uma pessoa líquida, certamente vai defender essa contratação.
Se compreendemos que mantemos diversas relações no ambiente de trabalho, vamos verificar que é plausível estabelecer como meta a autogestão dos sentimentos e emoções com o funcionário. Todas essas dimensões pessoais e profissionais contribuem para um colaborador mais saudável, perante as exigências de sua atuação na empresa.
Essas temáticas da emoção, sentimentos e afetividade são, neste momento, altamente relevantes, especialmente em se tratando do atual mercado de trabalho que, por influência da pandemia e a histeria coletiva, prejudicam muito os lucros das empresas e fomentam o desemprego. Também é visível que a atual situação torne as pessoas desconectadas emocionalmente, tendo como consequência sentimentos de medo e ansiedade, por exemplo.
Tive a oportunidade de ter aula com o Daniel Goleman, um dos percursores da inteligência emocional, que a conceitua como nada mais do que a capacidade do ser humano de lidar com as emoções. Isso inclui a capacidade de síntese, de intuição, compreensão da linguagem e gestos, entre outras.
Qual a empresa que não gostaria de ter as seguintes qualidades em seus colaboradores?
Conhecer as próprias emoções; controlar as emoções; automotivação; empatia; saber se relacionar interpessoalmente.
O fato é que, atualmente, temos uma nova geração fraca emocionalmente e adultos que têm medo de uma verdadeira e legítima felicidade, ainda convivendo em uma modernidade líquida, como há anos alerta o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, que ainda explora o amor líquido, pessoas líquidas; pessoas que nasceram em tempos líquidos.
Todos deveriam se conscientizar de que a empresa NÃO é representada pelos maquinários ali existentes, muito menos seus estoques. Empresas são as pessoas que ali estão produzindo, sendo assim, pessoas e empresas que têm um olhar mais atento às questões emocionais geram qualidade nas suas relações e têm como ressonância lucros mais expressivos.
Daltro Monteiro é especialista em Consultoria Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)