A governança corporativa é um tema que, à primeira vista, pode parecer técnico e distante, mas é vital para a saúde e longevidade das empresas, especialmente as familiares. Essas empresas enfrentam desafios únicos, desde a gestão de conflitos internos até o planejamento de sucessões. A implementação de práticas de governança eficazes é crucial para garantir não apenas a sobrevivência durante essas transições, mas também para assegurar que esses negócios prosperem no longo prazo.
Imagine uma pequena padaria de bairro. A proprietária, Dona Clara, sempre se orgulhou do negócio herdado de seu pai. O segredo do sucesso sempre foi a transparência com os clientes e o tratamento justo com os funcionários. Ela sabia que, se algum dia faltasse com a verdade ou tratasse alguém de maneira injusta, a confiança conquistada ao longo dos anos desapareceria rapidamente.
Essa prática é um microcosmo do que as grandes corporações precisam: um conjunto claro de diretrizes e práticas que assegurem uma gestão eficiente, transparente e ética. Sem isso, elas correm o risco de cair em armadilhas como fraudes, corrupção e má gestão, resultando em prejuízos incalculáveis não só para os acionistas, mas para toda a sociedade.
O sucesso contínuo de uma empresa familiar não depende apenas da paixão ou da tradição. É necessário uma estruturação estratégica e consciente para o futuro. Compreender a importância da governança e como implementá-la é essencial para manter o crescimento e fomentar a inovação.
Os escândalos financeiros que abalaram grandes empresas no passado, como os casos da Enron e da Xerox, são lembretes amargos da falta de governança. Fraudes contábeis e manipulação de balanços fiscais não apenas destruíram essas empresas, mas também prejudicaram a economia de um país inteiro. Esses eventos trouxeram à luz a necessidade de uma boa governança corporativa, tornando-a um farol na escuridão dos negócios.
O conceito de governança corporativa surgiu precisamente para evitar esses desastres. É uma estrutura que protege os interesses de todos os envolvidos – desde acionistas até funcionários e clientes. É a garantia de que os gestores agirão de forma responsável e ética, com a transparência necessária para que todos saibam o que está acontecendo.
No contexto das empresas familiares, é crucial separar os assuntos da empresa dos da família. As pessoas devem ser contratadas com base em suas competências, não por laços familiares. O preparo para o processo de sucessão é fundamental para garantir um futuro bem-sucedido. Atualmente, apenas 4% das empresas familiares chegam à quarta geração, o que destaca a importância desse preparo.
A governança corporativa, apesar de parecer um conceito técnico e distante, está intimamente ligada ao cotidiano de todos nós. É o que garante a confiança nas empresas, promove uma cultura ética e responsável e, em última análise, contribui para um mercado mais justo e sustentável.
Assim como na padaria de Dona Clara, em que a transparência e o tratamento justo são a base do sucesso, as grandes organizações também precisam desses princípios para prosperar. E nós, como consumidores, investidores e cidadãos, somos os grandes beneficiados quando as empresas adotam uma governança corporativa sólida.
Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada, com pós-graduação em Direito Previdenciário, Direito do Trabalho e Direito Digital. Presta consultoria para empresas no ramo do direito do trabalho e direito digital. É coordenadora do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em MBA em Gestão de Previdência Privada – Fundos de Pensão, do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG.
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