Por Eulália Isabel Coelho
A busca por filmes de qualidade tem mostrado que a oferta é maior em obras de pouco ou nenhum significado artístico. São títulos descartáveis, que não valem o investimento do nosso tempo e nem proporcionam uma grata experiência cinematográfica.
Entenda-se aqui no sentido do que nos move, do que nos toca de algum modo, seja de maneira positiva ou não, mas que acresce algo aos nossos sentidos e nos faz refletir. É como ler um bom livro, ficamos com a sensação de que crescemos também como seres humanos. Sofremos junto com os personagens, amamos, odiamos, nos apaixonamos. O fato é que nunca saímos ilesos.
É disso que estou sentindo falta nos filmes que nos chegam aos poucos em função da pandemia. Muitos dos que entram nos catálogos de streaming trazem promessas que não se cumprem. O fato é que precisamos fisgar no meio de tantas “bombas” os filmes que realmente valem a pena.
Seja pela trama, diálogos afiados, fotografia, trilha sonora, atuações marcantes... De preferência tudo isso e mais, muito mais em uma só obra. Aqui, a palavra seletivo toma uma grande proporção, aliada às expectativas que norteiam nossas escolhas.
Os Órfãos não se sustenta como suspense de qualidade
Exemplificando: Os Órfãos (2020), baseado na obra de Henry James, cujo título original é “A Outra Volta do Parafuso”, é mais uma versão dessa novela. A primeira, de 1961, é daquelas inesquecíveis por seu poder envolvente em mistério e suspense, estrelada por Deborah Kerr e roteirizada por Truman Capote.
Já Os Órfãos, da diretora Floria Sigismondi, com Mackenzie Davis, Finn Wolfhard e Brooklynn Prince, é um emaranhado mal-ajambrado de premissas que não chegam a lugar algum. Assim, embora tenha atuações que mereçam elogios, o filme em si é mal-conduzido, com um roteiro fraco e confuso, além de um final abrupto e esquisito.
O Segredo da Floresta é pastiche no gênero terror
Dentro da linha de terror e suspense, outro filme que fica incomodando é O Segredo da Floresta (2019) do indiano Vikram Jayakumar. Aqui o que acontece é que não há originalidade alguma. É um verdadeiro pastiche em que o diretor pega coisas daqui e dali para incorporar à sua história. A sensação do já visto acontece o tempo todo. Refiro-me aos clichês de filmes do gênero.
Filmes de ação e espionagem também caem e muito no lugar comum, até mesmo quando querem inovar. Ava (2020) ganhou até apelido: “a Atômica de Jessica Chastain”, referência ao filme Atômica estrelado por Charlize Theron que agradou os espectadores e parte da crítica.
Esse thriller coloca a personagem Ava como uma matadora profissional problemática, que fica fazendo perguntas às vítimas antes de acabar com elas. Em resumo, Ava quer saber o que a pessoa fez para ser morta por ela, que recebe as missões sem conhecer os motivos.
Jessica Chastain é Ava em filme que desperdiça talentos
O que acontece é que o potencial para um ótimo filme no gênero é falho e o elenco não tem como segurar uma história tão enfadonha e repleta de estereótipos, ainda que Chastain se esforce e dê seu melhor. A atriz, indicada ao Oscar duas vezes, é desperdiçada pela direção de Tate Taylor.
Críticos especializados e também o público não “engoliram” a trama. Em meio a esse caótico thriller, a presença de John Malcovich precisa ser reverenciada. No elenco também estão Geena Davis e Colin Farrell. Ah! E o final fica em aberto dando ideia de uma possível continuação.
A lista dos piores dos últimos tempos é imensa. Muitas obras desfavorecidas em temáticas, roteiro e criatividade continuarão minando as plataformas de streaming. Só precisamos fugir delas.
Confira algumas que você pode evitar, pois se encaixam nos títulos mais fracos, desnecessários e até irritantes lançados nos últimos tempos. Eu assisti por vocês! Viu algum deles? Será que concorda?
MINHA CLAQUETE
Estou Pensando em Acabar Com Tudo, de Charlie Kaufman
Por quê? Arrastado e sem sentido, vai dando um cansaço e torna-se enervante.
365 Dias, de Barbara Bialowas e Tomasz Mandes
Por quê? É tipo um 50 Tons de Cinza piorado (sim, é possível!)
A Última Coisa que Ele Queria, de Dee Rees
Por quê? Maçante e desconexo, sem atrativos ao espectador. Nem Anne Hathaway salva a
produção.
Dolittle, de Stephen Gaghan
Por quê? O roteiro é ruim, os efeitos especiais são simplórios, a trama é confusa. Robert Downey Jr. escolheu a dedo o pior filme de sua carreira.
O Limite da Traição, de Tyler Perry
Por quê? É uma história batida, com alguns furos na trama e que não agrega nada ao espectador em termos de experiência cinematográfica.
The Last Days of American Crime, de Olivier Megaton
Por quê? Ação e violência extremas numa história futurística totalmente simplista e descabida.
Mulan, de Niki Caro
Por quê? Apesar de não chegar a ser o pior dos piores, entra aqui pela narrativa irregular e superficial que prejudica o resultado final. Mas é esteticamente incrível!
Encontro Fatal, de Peter Sullivan
Por quê? Apesar da química entre os protagonistas (Nia Long e Omar Epps), o filme mais parece uma releitura nada imaginativa de Atração Fatal (1987).
A Marca do Demônio, de Diego Cohen
Por quê? Sabe aquele terror barato, mal-conduzido e absolutamente trash? Esse filme é assim!
Wasp Network – Rede de Espiões, de Olivier Assayas
Filme baseado em livro de Fernando Morais, produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira e pelo francês Charles Gillibert.
Primeiro pense nesse elenco: Penélope Cruz, Gael García Bernal, Edgar Ramírez, Wagner Moura, Ana de Armas... mas...
Por quê? O elenco de estrelas não consegue dar conta de segurar um filme monótono com uma trama complicada demais.
Eulália Isabel Coelho é jornalista, professora de cinema e escritora
bibacoelho10@gmail.com
Da mesma autora, leia outro texto AQUI
FOTOS DIVULGAÇÃO