YAN RENCK KLEIN
Meu fascínio pelo universo da energia vem desde a infância. Meu projeto de Ciências na quinta série foi montar um dínamo em cima de uma mesa, com uma roda, alimentando vários componentes para fazer barulho e acender luzes, sem entender direito o que acontecia ali, mas já focado em identificar a questão da conversão de energia.
Por isso, foi natural eu decidir cursar uma faculdade não tão tradicional, a partir da qual aprendi que conjugar energia elétrica com fontes renováveis se apresenta como um mundo de oportunidades. Hoje, adquirir energia elétrica de fontes renováveis (energia eólica, solar, de pequenas hidrelétricas e de biomassa, ou seja, de origem vegetal) representa a união entre a consciência ambiental e a redução de custos para as empresas, um mercado que cresce de forma acelerada no país.
Existe uma beleza sutil no conceito relativo à questão do aproveitamento de resíduos que podem ser transformados em energia. O resíduo, para a maioria das empresas, configura um problema ambiental. É um rejeito que precisa ser destinado, é preciso pagar pela destinação, havendo toda uma questão ambiental envolvida. Mas, abrindo as oportunidades, ele pode se transformar em uma nova matéria-prima, a ser utilizada em um segundo processo, representando uma sobrevida da matéria-prima inicial.
Cada indústria possui seus processos de transformação e, ao final, gera seus resíduos específicos. Mas, com o aproveitamento energético de resíduos, extrai-se ainda mais o seu potencial, agora na forma de energia, para fazer um uso mais completo.
Quando se pensa em resíduo e aproveitamento para a área térmica, ou geração de energia elétrica, que é um subproduto do aproveitamento energético de resíduos, o que vem à mente em primeiro lugar é a utilização de biomassa. Há os resíduos do setor de reflorestamento, como a sobra dessa biomassa, que possui um valor energético agregado, e o carbono que está sendo sequestrado por outras árvores. O processo da biomassa é um dos mais verdes que existem, por possuir todo esse ciclo de renovação.
O setor do reaproveitamento de energia abriga muitos desafios e as novidades estão sempre se apresentando, a partir de estudos de ponta. O reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos, por exemplo, que possuem um poder calorífico, ou seja, a capacidade de queimar e gerar calor, vem agregado ao desafio do controle de emissões. Os resíduos sólidos representam uma miscelânea de materiais com uma grande variedade de emissões.
Esse é o desafio da queima direta de resíduos sólidos: o cuidado com as emissões na ponta final. Em centros urbanos mais densos, impera a tendência de instalação de centrais de queima de resíduos, devido à questão de espaço e da possibilidade de destinação energética.
Na América Latina, ainda se usam muito os aterros sanitários, que geram como subproduto o gás metano, que pode ser aproveitado. Há toda uma questão ambiental envolvida, mas, procedendo-se ao tratamento correto do aterro, com a estruturação necessária, ao fazer a coleta do metano, não só ele deixa de ser lançado na atmosfera, como se obtém um ótimo combustível para ser queimado na indústria, por meio dos biodigestores.
Todas essas fontes conversam com o Mercado Livre de Energia, no qual existe um enorme potencial para crescimento. Há uma grande abertura de acesso nesse setor, com a entrada de consumidores de todos os portes e, também, por parte do gerador de energia com a alternativa de usar fontes renováveis. O Mercado Livre é o ambiente no qual essa energia poderá ser colocada no mercado para ser vendida, com a característica de ter vindo de uma fonte de uso nobre, pelo reaproveitamento e o cuidado ambiental que advêm desses processos.
A descentralização da geração de energia é o fator que mais vai impactar o setor elétrico daqui para a frente. Os grandes projetos faraônicos ficaram no passado, tiveram o seu momento importante na história do país, como Itaipu, Furnas, as grandes usinas dos anos 1960 e 1970, que muito contribuíram para a estabilidade do sistema, a alimentação e a geração de energia necessária para o país. Mas as áreas mais propícias para esse tipo de projeto já foram utilizadas, não estando mais disponíveis.
A tendência atual é enxergar mais o micro: a microgeração, a geração descentralizada, tanto pelas fontes clássicas (como a fotovoltaica e a eólica), como por pequenas centrais de geração de energia por meio de resíduos (pequenas turbinas a vapor etc). Quem gera calor por meio de resíduos também pode ter a oportunidade de gerar energia elétrica. A matriz está mudando e a dependência da energia elétrica tradicional está reduzindo. As pequenas centrais hidrelétricas reduzem o impacto ambiental, com menores áreas de alagamento.
Às vezes não se percebe o “ouro” que se tem em casa, em termos de resíduos. Na Perfil Energia nós, juntamente com o cliente, conseguimos detectar aquilo que, para o processo industrial, era apenas um problema ambiental, encontrar um melhor destino para aquele resíduo, aproveitando-o e ressignificando-o a partir do trabalho de nossas equipes técnicas. O que antes parecia um limão, ajudamos a transformar em limonada.
Empresas que geram resíduos com potencial energético são auxiliadas a entender como poderão transformá-los em energia. Assim, é possível detectar o potencial desse resíduo, a maneira de transformá-lo, de utilizá-lo, de transportá-lo, conforme o caso. O emaranhado de variáveis é grande e é possível auxiliar o empresário a decifrar isso tudo da melhor forma possível, com uma equipe técnica e profissional ampla e diversificada.
Yan Renck Klein é engenheiro de energia formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e atua na empresa caxiense Perfil Energia, a maior gestora de energia elétrica do Mercado Livre de Energia na Região Sul do país.