Nesta 96ª edição do Oscar, um filme foi premiado com nada menos que sete estatuetas, coisa rara de acontecer. Ainda mais se tratando de um filme que foge dos esquemas espetaculares do cinema de ação e de efeitos especiais, para se concentrar na biografia de um cientista: J. Robert Oppenheimer (1904-1967). Tão personalizado que até o nome dele foi usado para título do filme, contemplado com o Oscar nos seguintes itens:
Melhor filme
Melhor direção
Melhor ator
Melhor trilha sonora original
Melhor direção de fotografia
Melhor montagem
Melhor ator coadjuvante
Verdade que essa premiação foi criticada pela mídia ao redor do mundo, por dois motivos principais. O primeiro pelo fato de a narrativa se concentrar na figura do físico Oppenheimer que, no Projeto Manhattan, contribuiu para o desenvolvimento da bomba atômica. O outro resulta do fato de que se trata de uma personalidade muito exaltada na cultura americana, como “o pai da bomba atômica”, o mesmo não ocorrendo no restante do planeta.
Divergências sempre existem em qualquer tipo de avaliação crítica ou de arbitragem, mesmo no futebol... No caso do cinema, além das discordâncias de fundo artístico, existem também as de cunho econômico, já que o cinema é considerado não apenas uma arte, mas uma indústria, dentro da cadeia do entretenimento.
Olhando-se de um ponto de vista puramente cinematográfico, o fato é que fazer um filme biográfico é muito difícil. Ouvi essa declaração de um cineasta de longa trajetória há poucos dias.
Vários problemas dão de frente com os encarregados do roteiro e da direção, a começar pelo ângulo a ser adotado para construir a trama narrativa: a luta é do personagem consigo mesmo, ou dele com os possíveis parceiros, com o contexto moral, com o contexto econômico, com o quadro político? No plano emocional, para cativar o espectador, o que pode ser mostrado sem ferir a imagem do biografado?
Mas quando todas essas escolhas são bem feitas, de modo convincente, e as técnicas de construção funcionam bem – ator principal, fotografia, montagem, trilha sonora etc. – conduzidas por uma direção competente, o resultado pode levar a uma penca de estatuetas! Como aconteceu com Oppenheimer, que tinha a charmosa Barbie como deslumbrante competidora...
Mas o Oscar é assim mesmo: quem espera ganhar, não ganha. Sei por experiência própria!
José Clemente Pozenato é escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.
pozenato@terra.com.br
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